São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rock chinês ganha os EUA

JAIME SPITZSCOVSKY
DE PEQUIM

O rock chinês já ultrapassou a infância quando se esforçava para repetir as notas vindas do Ocidente.
Na fase adulta, marca dos anos 90, os músicos usam também instrumentos locais e compõem letras dedicadas a descrever um mundo modelado pelo domínio do Partido Comunista e pelas reformas econômicas.
Os roqueiros chineses ainda começam a explorar mercados no exterior, em busca de lucros e procurando driblar limites impostos pelo governo chinês.
"O governo não impede nossa existência, mas se esforça ao máximo para que fiquemos limitados a um pequeno mundo", afirma à Folha a principal estrela do rock chinês, Cui Jian (pronuncia-se tsui djian).
O último show de rock para o grande público em Pequim ocorreu em 1993. O governo não concede autorização para apresentações na capital, com medo de multidões, pois ainda guarda na memória o movimento estudantil de 1989, que foi violentamente reprimido pelo exército e deixou centenas de mortos.
Sem espaço nos meios de comunicação, que também são controlados pelo governo, os roqueiros chineses dependem de uma legião de fiéis para vender seus CDs e de shows realizados em cidades do interior.
Mas, nos tempos das reformas pré-capitalismo, os músicos e empresários chineses perceberam que a sua música corresponde a um lucrativo produto de exportação.
Seattle
Discos, CDs e fitas desembarcam em mercados estrangeiros, e os astros do rock chinês passam a frequentar palcos no exterior.
Cui Jian desbravou os Estados Unidos. Com uma banda composta por sete músicos, o roqueiro chinês fez sua primeira apresentação em Seattle em setembro de 1994.
Repetiu a dose em agosto do ano passado, com uma turnê que incluiu São Francisco, Boston e Nova York.
Qual foi a reação? "Muito positiva", responde Cui Jian, 35. Ele mostra uma crítica publicada no "New York Times" e assinada pelo jornalista Jon Pareles: "Cui é um profissional completo, um músico de classe internacional. Mas o que faz sua música deslanchar, mais do que a sua habilidosa construção, é a convicção de que ao soltar idéias e sentimentos reprimidos, ele pode remodelar o mundo".
Hei Bao
Outros artistas chineses não conquistam críticas tão grandiloquentes, mas abocanham mercado em outros países.
A banda Hei Bao (Leopardo Negro) já tocou no Japão, em Hong Kong e na Malásia, e seus CDs com alto teor de heavy metal frequentam as lojas de discos de Taiwan e Cingapura.
Pequim testemunhou um show do Hei Bao pela última vez em 1993, um ano depois de uma apresentação ter atraído um público de cerca de 100 mil pessoas.
"As autoridades se assustaram com nosso sucesso", afirma o vocalista Qin Yong (pronuncia-se tching iong).
O Hei Bao faz as contas da vendagem de seus CDs. O primeiro, lançado em 1991 com o título "Não Há Lugar para se Esconder", vendeu 500 mil unidades, além de 3 milhões de cópias piratas.
"Na verdade, por causa dos piratas, fica difícil saber exatamente quanto vendemos", afirma Qin Yong.
O grupo não tem a contabilidade do segundo CD ("Deus da Luz do Sol") e do terceiro ("Nem Preto Nem Branco"), lançado em fevereiro passado. Cui Jian avalia suas vendas. "Já passei de 10 milhões de cópias", estima.
Dinastia Tang
Outra banda de sucesso na China, a Dinastia Tang, tem na ponta do lápis as vendas em casa e no exterior, graças ao esforço de contabilidade do seu empresário, Landy Chang.
O CD que carrega o mesmo nome do grupo vendeu até o ano passado 800 mil cópias na China, 40 mil em Taiwan, 15 mil em Hong Kong, 8.000 em Cingapura e Malásia, 7.500 no Japão e Coréia do Sul e 4.000 nos Estados Unidos.
Influências
Cui Jian define sua música atual como uma mistura de punk, jazz e rap com elementos chineses, como instrumentos tradicionais.
No meio do ritmo pesado das guitarras e da bateria, às vezes aparecem os sons de um "suona", tipo de oboé, ou de um "zheng", espécie de cítara.
"Antes apenas copiávamos a música ocidental", lembra Li Tong, o guitarrista do Hei Bao. "Agora já estamos numa fase mais avançada, compondo, tentando colocar um alma chinesa no rock."
Cui Jian lista suas principais fontes de influência: Beatles, Rolling Stones, Talking Heads e Sting.
Já o Dinastia Tang carrega o rótulo de versão chinesa da banda norte-americana Aerosmith, um modelo que divide com os roqueiros do Hei Bao.

Texto Anterior: Suter une corpo e geografia
Próximo Texto: Exposição retrata mulheres africanas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.