São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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Alfinetes e palitos

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Reportagem em jornal carioca revela os doadores de dinheiro aos principais candidatos municipais do Rio. Nenhuma surpresa. São empresas ou empresários que dependem diretamente do poder local. Não há ideologia na relação custo-benefício.
Tampouco uma torcida específica, nascida de admiração pessoal. É apenas um investimento por parte do doador e um compromisso por parte do beneficiário. O popular pão, pão, queijo, queijo.
As campanhas eleitorais estão cada vez mais caras. O chamado "horário eleitoral gratuito" só é gratuito em relação às emissoras de TV e rádio, concessionárias do serviço público (o éter é do povo, quer dizer, do governo). Elas não podem estrilar.
Os programas custam os olhos da cara. Incluem efeitos especiais, trens-bala virtuais, pesquisas, material de arquivo, o diabo. Isso sem falar no pagamento direto a cabos eleitorais e donos de currais que vendem pacotes de votos numa contabilidade que escapa à compreensão de um leigo no assunto.
Não há o que reclamar. É a democracia, a pior forma de regime político, salvo os demais. Na esfera municipal, até que a coisa é suportável. A porca torce o rabo nas eleições mais interessantes, que envolvem o poder federal.
Temos um presidente da República que é duplamente candidato. Numa primeira fase, candidato à mudança constitucional a fim de se beneficiar com a reeleição. Vencida a primeira, a segunda fase: candidato à sucessão de si mesmo. O que isso vai custar de favores à classe política (na primeira fase) e de dinheiro vivo (na segunda) -será uma fábula.
Não havendo ideologia na jogada, os preços serão terra-a-terra, mensuráveis em sua imensurabilidade.
Não deixam PC Farias descansar em paz. Deve estar dando voltas no túmulo. No tempo dele, sem reeleição, os preços eram vis. Ele corrompeu e deixou corromper-se por alfinetes e palitos.

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