São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Atendimentos terão que ser justificados

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Todas as pessoas atendidas nas emergências de hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde) a partir de 97 terão que informar a natureza da lesão que sofreram.
O objetivo dessa determinação é descobrir o total real de acidentados durante atividades no trabalho no Brasil.
Segundo dados preliminares do Ministério da Previdência, houve 424,1 mil acidentes de trabalho em 95, que causaram 3.967 mortes.
Número real
Mas o próprio governo admite que o número real de acidentes de trabalho possa ser até cinco vezes maior -totalizando 2,1 milhões de acidentados.
O número de mortes em decorrência do trabalho pode chegar a 6.000.
Hoje, as únicas informações disponíveis sobre saúde no ambiente de trabalho vêm do Ministério da Previdência, responsável pelo pagamento de benefícios aos trabalhadores que ficam temporariamente ou permanentemente inválidos.
Subnotificações
Segundo o Ministério da Saúde, o índice de subnotificações (omissão de registros de casos) vem crescendo no país.
Em 78, não era feito nenhum registro em 32% do total de acidentes. Hoje estima-se que a subnotificação seja de 79%.
A falta de fiscalização nas empresas é apontada como causa principal do alto índice de subnotificação.
O Ministério do Trabalho só tem 600 médicos e engenheiros para fazer a vigilância em todo o país.
São Paulo é o Estado com mais fiscais: 80 ao todo. Cada um precisaria inspecionar 15 mil empresas por ano para cobrir toda a população de trabalhadores.
Números
Se os números oficiais de acidentes no trabalho correspondessem à realidade, haveria motivos para comemoração, já que eram mais de três vezes maiores há 17 anos.
Foi registrado 1,5 milhão de acidentes em 78, contra 424,1 mil em 95.
Mas nem o governo nem trabalhadores confiam nas estatísticas. "Esses números não refletem a realidade. Infelizmente, não houve uma redução tão significativa assim. Acreditamos que os acidentes tenham até aumentado", disse Carlos Aparício Clemente, representante da Força Sindical.
Situações absurdas
Em alguns Estados, a subnotificação criou situações "impossíveis e absurdas" segundo Clemente.
Não foi registrada, por exemplo, nenhuma morte em decorrência do trabalho no Rio Grande do Sul nem em Roraima em 1995.
"É claro que há algo errado. Não temos como avaliar se a saúde dos trabalhadores melhorou ou piorou porque é impossível confiar nos dados disponíveis", disse Clemente.
"É preciso descobrir maneiras mais eficazes de registrar os acidentes", afirmou ele.

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