São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Remédios reduzem cirurgia de próstata

AURELIANO BIANCARELLI
JAIRO BOUER

AURELIANO BIANCARELLI; JAIRO BOUER
ENVIADOS ESPECIAIS A PARIS

Uso de medicamentos faz número de operações na glândula masculina cair mais de 50% nos Estados Unidos

As cirurgias para a correção do crescimento da próstata -doença conhecida como hiperplasia benigna prostática (HPB)- caíram mais de 50% nos últimos dez anos nos Estados Unidos.
Em 1987, foram realizadas 253 mil cirurgias. Em 1995, esse número caiu para 121 mil. Os grandes responsáveis por essa queda foram os medicamentos que atuam diretamente sobre a próstata -glândula masculina abaixo da bexiga.
Na hiperplasia, a próstata cresce e comprime a uretra -causando dificuldades urinárias.
A substituição do bisturi pelos comprimidos é certamente a melhor notícia anunciada no 12º Congresso Europeu de Urologia, que acontece em Paris.
A tendência -diz Marjo Perez, urologista da Santa Casa de São Paulo- é uma queda rápida no número de cirurgias da próstata também no Brasil. Perez coordenou um estudo com pacientes que tomavam medicamentos.
Doença comum
A HPB é uma doença comum no homem que envelhece. Metade dos homens com mais de 50 anos têm algum tipo de sintoma. Esse número salta para mais de 85% em homens com mais de 80 anos.
A primeira classe de remédios descoberta inibe a ação dos hormônios masculinos sobre a próstata. Normalmente, a testosterona entra na glândula, sofre ação de uma enzima e é transformada em DHT -hormônio que faz as células da próstata proliferarem.
A finasterida, vendida pelo laboratório Merck Sharp & Dome como Proscar, bloqueia a ação da enzima e faz a próstata encolher.
A segunda classe (alfabloqueadores) atua sobre os músculos lisos da próstata e relaxa a pressão desses músculos sobre a uretra, o que causa alívio dos sintomas.
Esse tipo de medicamento foi produzido originalmente para o tratamento da hipertensão arterial, relaxando a musculatura das artérias. Há dois produtos no Brasil, vendidos pela Abbott (Hytrin) e Pfizer (Cardura).
Estudo inédito
Um estudo publicado no último dia 22, no New England Journal of Medicine -uma das publicações médicas mais importantes de todo o mundo- revelou que o alfabloqueador produzido pela Abbott tem efeito superior à finasterida, produzido pela Merck.
O resultado preliminar desse estudo já havia sido divulgado no Congresso da Associação Americana de Urologia em Orlando (Flórida), em maio deste ano.
Outro resultado encontrado pelo estudo (que envolveu 1.229 homens em 31 centros americanos) revelou que a ação da finasterida era comparável à de um placebo, pílula sem efeito.
No congresso de Paris, os dois laboratórios envolvidos nessa pesquisa voltam à cena para tentar mostrar que cada medicamento tem indicações diferentes para o tratamento da HPB.
A Merck alega que o estudo selecionou apenas pacientes que tinham próstatas pequenas (com peso inferior a 40 gramas) -situação em que o Proscar tem efeito limitado. Urologistas importantes como Logan Holtgrewe, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), apóiam a posição.
Claus Roehrborn, do Centro Médico de Dallas, da Universidade do Texas, coordenou uma metanálise (análise estatística) dos últimos seis estudos com o Proscar e garante que o medicamento tem ação superior ao placebo, principalmente em homens com próstatas com mais de 40 gramas.

Aureliano Biancarelli e Jairo Bouer viajaram a convite dos laboratórios Abbott e Merck Sharp & Dome

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