São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996
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Novo CD de Lulu Santos mistura soul, funk, r&b e discothèque

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Você já deve ter ouvido esta história. Lulu Santos, 43, hoje em mais um de seus auges de popularidade, está lançando disco novo ("Anti Ciclone Tropical" é o nome do rebento), quer depois lançar um "pseudoacústico" (como ele define) que resuma seus 15 anos de carreira e depois pára de gravar.
"Estou correndo o risco de dizer que este pode ser meu penúltimo disco. Estou no 13º trabalho e não quero chegar ao 25º. Você já viu algum 25º disco bom?", pergunta.
"Gostaria de sair da sazonalidade da mídia, de ter que lançar discos periódicos e gravar clipe e fazer show e fazer sucesso... Meus 15 minutos de fama já se alongaram por demais. Não quero virar paródia de mim mesmo", explica Lulu Santos.
Não demora a se contradizer. "Se ganhar dinheiro suficiente com esses discos, não preciso mais de gravadora, de mídia. Gostaria de poder pegar uma fita DAT, um processador no pequeno estúdio que comprei e ficar semanas gravando sambas, até chegar a uma versão que me satisfizesse." E, naturalmente, lançá-los no mercado.
Aremby
Enquanto essa hora não chega, Lulu dá sequência à trilha de trabalhos sacudidos que abriu com "Assim Caminha a Humanidade" e consolidou com "Eu e Memê, Memê e Eu" (que vendeu, segundo ele, 800 mil cópias).
Se o primeiro era um esboço de futuras intenções e o segundo um tratado de dance music ortodoxa, este novo trabalho finca pé nas vertentes mais legítimas da "black music": o funk, o soul e o rhythm & blues, ou r&b, ou, como prefere Lulu, "aremby" ("Assim mesmo, com "y", como escreveria Glauber Rocha").
E, também, a discothèque -Lulu esteve na Filadélfia, onde registrou a participação, nos arranjos de cordas de duas faixas, de Vince Montana, regente da "disco classic" Salsoul Orchestra, que já acompanhou a inacreditável Charo em hinos disco como "Dance a Little Bit Closer" (77).
"A disco foi, desmerecidamente, o bode expiatório, o judas de muito roqueiro. Eu nunca, jamais pensei assim. Acabei sendo denominado roqueiro (o que é um grande equívoco), mas nem sou branco o suficiente para isso. A cor está na minha veia, no meu canto, não é um travesti", afirma o cantor.
No momento, ele quer é distância do rock. "Rock, para mim, só se for brasileiro. Como li em algum lugar, só se for feito por mulher ou gay -ou, acrescento eu, por brasileiro." Embalado pela nova crença, entre os Beatles que nortearam seus primeiros trabalhos e o soul negro da Motown, ele não pisca o olho: "Motown. Motel".
Assim, pop é o nome que prefere para o que faz (e, diz, sempre fez, fosse em compasso rock, dance ou funk). "O pop que eu faço é o vôo da abelha. A abelha é aerodinamicamente proibida de voar. Mas voa", finaliza.

O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou ao Rio a convite da gravadora BMG.
Disco: Anti Ciclone Tropical
Artista: Lulu Santos
Preço: R$ 18, em média

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