São Paulo, quarta-feira, 4 de setembro de 1996 |
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Novo CD de Lulu Santos mistura soul, funk, r&b e discothèque
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
"Estou correndo o risco de dizer que este pode ser meu penúltimo disco. Estou no 13º trabalho e não quero chegar ao 25º. Você já viu algum 25º disco bom?", pergunta. "Gostaria de sair da sazonalidade da mídia, de ter que lançar discos periódicos e gravar clipe e fazer show e fazer sucesso... Meus 15 minutos de fama já se alongaram por demais. Não quero virar paródia de mim mesmo", explica Lulu Santos. Não demora a se contradizer. "Se ganhar dinheiro suficiente com esses discos, não preciso mais de gravadora, de mídia. Gostaria de poder pegar uma fita DAT, um processador no pequeno estúdio que comprei e ficar semanas gravando sambas, até chegar a uma versão que me satisfizesse." E, naturalmente, lançá-los no mercado. Aremby Enquanto essa hora não chega, Lulu dá sequência à trilha de trabalhos sacudidos que abriu com "Assim Caminha a Humanidade" e consolidou com "Eu e Memê, Memê e Eu" (que vendeu, segundo ele, 800 mil cópias). Se o primeiro era um esboço de futuras intenções e o segundo um tratado de dance music ortodoxa, este novo trabalho finca pé nas vertentes mais legítimas da "black music": o funk, o soul e o rhythm & blues, ou r&b, ou, como prefere Lulu, "aremby" ("Assim mesmo, com "y", como escreveria Glauber Rocha"). E, também, a discothèque -Lulu esteve na Filadélfia, onde registrou a participação, nos arranjos de cordas de duas faixas, de Vince Montana, regente da "disco classic" Salsoul Orchestra, que já acompanhou a inacreditável Charo em hinos disco como "Dance a Little Bit Closer" (77). "A disco foi, desmerecidamente, o bode expiatório, o judas de muito roqueiro. Eu nunca, jamais pensei assim. Acabei sendo denominado roqueiro (o que é um grande equívoco), mas nem sou branco o suficiente para isso. A cor está na minha veia, no meu canto, não é um travesti", afirma o cantor. No momento, ele quer é distância do rock. "Rock, para mim, só se for brasileiro. Como li em algum lugar, só se for feito por mulher ou gay -ou, acrescento eu, por brasileiro." Embalado pela nova crença, entre os Beatles que nortearam seus primeiros trabalhos e o soul negro da Motown, ele não pisca o olho: "Motown. Motel". Assim, pop é o nome que prefere para o que faz (e, diz, sempre fez, fosse em compasso rock, dance ou funk). "O pop que eu faço é o vôo da abelha. A abelha é aerodinamicamente proibida de voar. Mas voa", finaliza. O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou ao Rio a convite da gravadora BMG. Disco: Anti Ciclone Tropical Artista: Lulu Santos Preço: R$ 18, em média Texto Anterior: Cantora se identifica com Elis Regina Próximo Texto: Artista despreza brasilidade rançosa Índice |
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