São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Diogo vê mãe e diz que prefere pescador

MÔNICA SANTANNA

MÔNICA SANTANNA; ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Justiça do Amazonas concede guarda provisória do garoto a Ângela Moreira; Bossi diz que não o deixará

ANDRÉ MUGGIATI
O menino Diogo Rodrigo Moreira, 10, reconheceu ontem em Curitiba a cozinheira Ângela Regina Moreira, 27, como sendo sua mãe, mas disse que prefere ficar morando com o pescador João Bossi em Guaratuba (PR).
"Lembro dela, mas não gosto dela. Desde o dia em que ela me abandonou que eu não gosto mais", afirmou Diogo, após ficar numa sala sozinho com Ângela Moreira e sua irmã, Letícia, 5, por 15 minutos.
O juiz marcou para a próxima terça-feira uma audiência com Ângela Moreira, quando deverá decidir definitivamente sobre o caso. De acordo com ele, a decisão será tomada após uma avaliação de assistentes sociais e psicólogos do juizado.
"A tendência é que o menino fique com a mãe, que detém o pátrio poder sobre ele", afirmou o juiz.
Encontro
O encontro entre Diogo e Ângela ocorreu nas dependências do Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas), em Curitiba, a pedido de Ângela, que não via o filho havia cinco anos.
Ela chegou acompanhada do detetive Walmir Battú, que a localizou no Amazonas.
Diogo chegou com Bossi e ficou agarrado às pernas do pescador enquanto Ângela tentava falar com o filho. Chorando, ela pedia para abraçá-lo, mas Diogo se recusou a aceitar o abraço.
A cena irritou Battú, que começou a acusar Bossi e a advogada Kátia Leite de ter preparado o menino para evitar a mãe no encontro. "Vocês não deviam ter feito isso. É uma maldade.", afirmou o detetive.
Bossi negou que tenha instruído Diogo para não falar com Ângela. "É um absurdo. A criança não quer conversar. É uma decisão dela", afirmou o pescador.
Ele disse que pretende ficar com o menino de qualquer jeito. "Ele encontrou um verdadeiro lar e não abro mão dele de jeito nenhum."
Tristeza
Durante os 15 minutos em que ficou com a mãe e a irmã, Diogo ficou correndo pela sala enquanto Ângela tentava abraçá-lo.
Com Letícia no colo e chorando novamente, a cozinheira disse que estava triste pela reação de Diogo e pelo fato de o menino ter se recusado a falar com ela e a abraçá-la.
"Ele está revoltado. Eu compreendo, mas nunca o abandonei. Deixei ele com o pai porque me parecia o melhor a fazer", afirmou Ângela.
Ela disse que não abre mão da guarda do menino para João Bossi, como quer o pescador.
"Jamais abriria mão da guarda. Quero levar ele comigo. Só saio daqui com ele", declarou.
Ângela, atualmente, mora em Itacoatiara (AM), trabalha numa serraria e vive com o segundo marido, com quem teve dois filhos.
Ela foi localizada pelo detetive Battú a partir da certidão de nascimento de Diogo e ficou sabendo que o filho estava vivendo no Paraná por intermédio do detetive.
Recusa
Diogo disse que não quer voltar para Manaus. "Quero ficar aqui com papai. Se ela quiser, que se mude para cá para me ver", afirmou (leia texto ao lado).
Diogo está há 18 dias com João Bossi, que reconheceu o menino como sendo o seu filho Leandro Bossi, desaparecido em 92, em Guaratuba (litoral do Paraná).
O exame de DNA comprovou, entretanto, que Diogo não é filho de João e Paulina Bossi.

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