São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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'Damos tudo para os nossos pais'

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A.C.T.D., 11, frequenta os semáforos das avenidas localizadas em regiões nobres da cidade para ganhar "um trocado", que tem de entregar aos pais.
"Eu fico com outros garotos pedindo dinheiro no farol, de manhã até a noite. No final, damos tudo para os nossos pais", contou ele.
A.C.T.D. mora com os pais na zona sul de São Paulo.
"Com o dinheiro que sobra, compro roupa e comida", disse outro garoto, R.G.O., 8.
Mãe drogada
Márcio Henrique Perez, 18, começou a pedir esmolas na rua aos 11 anos.
"Fui para a rua porque não aguentava mais ver minha mãe e seus amigos se drogando em casa. Eles cheiravam, injetavam e fumavam maconha o dia inteiro", disse ele.
Perez contou que chegou a se prostituir e a fazer tráfico de drogas para conseguir se sustentar na rua.
Ele afirmou que precisou roubar uma bicicleta porque estava desempregado e havia sido despejado do cômodo que alugava na Vila Madalena (zona oeste), onde vivia com a mulher, grávida.
"Fui pego pela polícia e acabei preso cinco meses", disse ele.
Perez conta que quando pedia dinheiro nos semáforos ganhava cerca de R$ 80 por dia, mas tinha de dar a metade (R$ 40) ao "pai de rua".
A garota E.M.C., 15, diz que é obrigada a "arrumar" R$ 50 todos os dias para entregar aos seus pais. "Se não conseguir esse dinheiro, acabo apanhando." Ela pede esmola na avenida Brasil.
Drogas
Levantamento do SOS Criança realizado no mês passado mostra que entre 414 crianças carentes atendidas no órgão, 182 afirmaram usar drogas.
Desse total, a maioria (65%) é constituída por homens. As mulheres representam 35%. Entre os menores dependentes de drogas, 44% têm idades entre 13 e 15 anos; 37%, entre 16 e 18; 16%, entre 10 e 12 e 3%, entre 7 e 9.
Dessas 182 crianças drogadas, 56% vivem na rua, 24% moram com a família, 13% estão em instituições de assistência ao menor abandonado e 7% não responderam como vivem.
(AL)

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