São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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Cingapura beira avenidas e não atende áreas com mais favelados

MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

MARIO CESAR CARVALHO; JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Freguesia do Ó, com maior proporção de favelas, não tem prédios prontos
A região de São Paulo que concentra a maior proporção de favelados não tem nenhum prédio do Projeto Cingapura pronto.
É a Freguesia do Ó, onde 45,7% dos 670.911 moradores vivem em favelas (veja quadro). A prefeitura promete 120 apartamentos na região até o final do ano.
Os Cingapuras não foram construídos pelo critério das maiores populações faveladas, mas segundo a lógica de visibilidade, similar à que se usa para os outdoors.
A maioria deles está à beira das duas vias de maior tráfego de veículos do país -as marginais Tietê e Pinheiros (mapa abaixo).
São as duas melhores vitrines do país ao ar livre. Pela marginal Tietê, onde estão concentrados 12 prédios do Projeto Cingapura, passam diariamente 460 mil veículos por dia ou 690 mil pessoas.
Cruzam a marginal Pinheiros, onde estão quatro Cingapuras, 345 mil veículos. Ela é a segunda via do país em fluxo de veículos. Pelas duas marginais passam carros, ônibus e caminhões de todo o país.
Outras avenidas de trânsito intenso também foram contempladas com prédios do Cingapura.
Na favela Heliópolis, a maior de São Paulo, o prédio foi colocado junto à avenida presidente Wilson, por onde passam 26 mil carros, em média, diariamente.
Não são nas beiras das marginais ou dessas avenidas que vivem as maiores populações faveladas.
Em números absolutos, Campo Limpo lidera o ranking. Tem 340.487 favelados -ou 18% de todos os favelados da cidade. Mas, entre os beneficiados pelo Cingapura, só 5% vivem lá.
No confronto de favelados com beneficiados pelo projeto da prefeitura, Freguesia do Ó ficará em situação pior. Tem 16% dos favelados de São Paulo. Entre todos os beneficiados pelo Cingapura, porém, 1,4% são da Freguesia.
É a região mais prejudicada pelo projeto. Lidera na proporção de favelados em relação à população, é a segunda em população absoluta de moradores em favelas e fica em último lugar na lista das regiões atendidas.
Em situação pior ficaram só as regiões que não foram atendidas. É o caso de Capela do Socorro. Tem 11,4% dos favelados paulistanos e nenhum predinho do Cingapura.
Pelo prisma dos beneficiados, o projeto parece não ter muita lógica também. Jaçanã/Tremembé (zona norte) será a região mais bem favorecida até dezembro. Vai ter 660 apartamentos, que abrigarão 8% dos moradores do Cingapura.
A região número um em benefícios, porém, é a 18ª no ranking de população favelada na cidade.
Tem só 0,55% dos favelados paulistanos -10.536. Lá, 35% dos favelados serão atendidos pelo Projeto Cingapura até o fim do ano.
A segunda região mais beneficiada, a de Vila Maria/Vila Guilherme, fica em 8º lugar no ranking de favelados -tem só 3,4% deles. Mas fica à beira da marginal Tietê.
Duas regiões que têm um percentual alto de favelados foram bem atendidas pelo Cingapura: o Butantã e a Lapa.
O Butantã tem 7,46% dos favelados da cidade. Até dezembro, porém, a região terá um quarto de todas as pessoas que vivem em apartamentos do Cingapura. Serão 11.738 os beneficiados na região entre os 47.701 de toda a cidade.

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