São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
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Mar avança e ameaça área urbana no Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Em pelo menos sete pontos do litoral do Estado do Rio o mar avança sobre a terra e ameaça áreas urbanas. A destruição já ocorre na zona sul do Rio, na vizinha cidade de Niterói, no norte e no sul fluminenses.
O perigo de invasão do mar ameaça uma das mais famosas paisagens brasileiras. As últimas ressacas demonstraram que a turística praia do Leblon, na zona sul do Rio, já não resiste ao mar agitado.
Em julho, durante a última grande ressaca, o mar jogou cerca de 100 toneladas de areia da praia do Leblon sobre as pistas da avenida Delfim Moreira, um dos metros quadrados mais caros do país.
A situação da praia de Piratininga, em Niterói (a 15 km do Rio), é ainda mais grave.
Quase 500 metros do calçadão de Piratininga foram destruídos pelas ondas de até 4 metros de altura que atingiram o litoral em julho.
Piratininga é uma das praias mais apreciadas pelos cariocas. Nos fins-de-semana ensolarados, a praia recebe banhistas de toda a região metropolitana do Rio.
Desde a destruição do calçadão, o trecho inicial de Piratininga está interditado. Placas de concreto e tiras de vergalhões de ferro estão sobre a areia e até submersos, pondo em risco o banhista desatento.
Na praia de Atafona (município de São João da Barra, a 315 km do Rio, no litoral norte), sem esperança de que a situação se reverta, os habitantes estão indo embora.
Nos últimos 20 anos, o mar já avançou 200 metros sobre Atafona. Ruas, casas, escolas e até parte da igreja estão submersas.
A praia de Atafona praticamente deixou de existir. O que seria a faixa de areia não passa de um amontoado de destroços: paredes, telhas, concreto, placas de asfalto.
Em Macaé (cidade a 180 km do Rio, ao norte), o mar já destruiu totalmente o pontal da cidade, onde funcionava o iate clube.
O mar também avança sobre as restingas que separam o oceano das lagoas de Maricá e Saquarema, na região dos lagos fluminense.
O roubo de areia por mineradoras clandestinas, com a consequente destruição de dunas, e a ocupação das restingas por construções e estradas são as razões do avanço do mar nas praias de Saquarema e de Barra de Maricá.
A chefe da Área de Engenharia Costeira e Oceanográfica do Programa de Engenharia Oceânica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Enise Valentini, credita o avanço do mar em Maricá, Saquarema e Piratininga à ocupação da faixa dinâmica do mar.
A faixa dinâmica é a área de progressão do mar sobre a terra. A progressão máxima ocorre nas épocas de ressaca.
"As pessoas urbanizam áreas que pertencem ao mar. Mais cedo ou mais tarde o mar atingirá aquela área", disse ela à Folha.
"Antes da ocupação, deveria ser feita uma medição da periodicidade, força e propagação das ondas, pelo período mínimo de um ano. Isso não é feito no Estado do Rio."

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