São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
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Situação de hoje é diferente

ARMANDO GUEDES COELHO

Por razões tanto políticas como econômicas, podemos dizer claramente que o petróleo não corre perigo por causa dos problemas no Oriente Médio envolvendo o Iraque. Nós vivemos hoje, na região, uma situação muito diferente da de anos atrás, principalmente depois da dissolução da União Soviética e do seu enfraquecimento como potência militar mundial.
Mesmo com os atuais problemas envolvendo forças norte-americanas e iraquianas, as condições não mais permitem a ocorrência de uma crise do preço do petróleo como as que vimos anos atrás, durante a Guerra Fria.
Quando ainda era uma referência de força para os países árabes que se opunham à influência norte-americana, a União Soviética exercia um poder no Oriente Médio que evitava ações dos países ocidentais como a que vimos nesta semana contra forças do Iraque.
Como o mundo vivia dividido em dois grandes blocos militares, as potências ocidentais não podiam agir sozinhas em disputas internas no Oriente Médio, que sempre teve grande importância estratégica. A existência da União Soviética garantia o equilíbrio militar na região e proporcionava uma constante tensão em relação ao futuro da exploração e da distribuição do petróleo dos países árabes.
Hoje as potências ocidentais estão muito mais livres para tomar as decisões e as ações que consideram corretas para abortar qualquer ameaça à estabilidade política na área próxima ao Golfo Pérsico e, consequentemente, à comercialização do petróleo. Não há mais clima para as cenas que vimos no passado, como o bloqueio de navios no Golfo Pérsico.
O problema hoje está concentrado no comportamento do governo iraquiano e a ameaça que ele pode representar ao mapa da região. Mas o Iraque, apesar da insistência de seu presidente, não tem forças para abalar a economia da região. O governo iraquiano não tem recebido apoio de seus colegas árabes em suas investidas militares. E o petróleo iraquiano representa hoje muito pouco no mercado mundial, na verdade uma pequena quantia que é comercializada nas fronteiras de alguns países vizinhos.
Logicamente, sempre haverá especuladores no mercado à espera de qualquer instabilidade militar capaz de elevar o preço do petróleo no mundo. Mas serão apenas pequenas oscilações, que deverão ser absorvidas rapidamente pelo mercado.
Para o Brasil, a situação é mais confortável ainda. A produção interna hoje representa mais da metade do consumo do país. O Brasil não chegou a trazer petróleo do Iraque no momento, e sua dependência desta matéria-prima dessa região (Oriente Médio) é bem menor do que era nos anos 70. Não será uma operação militar como a que ocorreu que poderá tirar essa tranquilidade.

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