São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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À luz de Tieta

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Vai-se criando, como é de (mau) costume no meio cultural brasileiro, um novo Fla-Flu. Agora a bola está com "Tieta".
Na sexta, comentei o filme na Ilustrada. E conversei com Cacá Diegues a respeito, por telefone.
Manifestou seu "desânimo" com o que considerou uma opinião preconcebida em relação ao cinema feito no Brasil e a ele em particular.
Criticou leituras que fiz do filme -especialmente sobre o que chamei de "pieguice nacionalista".
Diz que não percebi que Sonia Braga focaliza a bandeirinha brasileira no espelho com uma câmera de vídeo, mas logo depois procura rugas em seu rosto -um contraponto crítico indispensável para o entendimento.
Tieta responde algo como "eu não consigo resolver nem meu futuro e ainda tenho que ficar resolvendo o do Brasil".
Falha de percepção, diz Cacá. Pode ser, mas não altera o raciocínio central -e simples- do artigo: o filme que vem à cena com a proposta explícita de ser um motor para essa fase de retomada do cinema brasileiro não consegue superar um modelo cujo ápice ocorreu na década de 70, apoiado no tripé Jorge Amado, Nelson Rodrigues e Sonia Braga.
Modelo, a meu ver, que já deu o que tinha que dar -mesmo que filmes daquele tipo ainda possam, eventualmente, levar público às salas, o que é, nesse momento, importante.
Cacá reclamou também da incompreensão de críticos e jornalistas sobre o uso de merchandising no cinema brasileiro. É uma prática comum em produções estrangeiras, novelas etc.
Diz que foi intencional o escancaramento do merchandising do banco Real em "Tieta".
Queria, com isso, "libertar" o cinema brasileiro desse preconceito.
É ridículo, a essa altura do campeonato, ter preconceito contra merchandising em cinema -embora continue não gostando da forma como foi feito em "Tieta". De qualquer modo, é irrelevante para a apreciação do filme.
Apreciação, diga-se, que já começou problemática pelo simples fato de Caetano Veloso, autor da música, ter jogado seu peso opinativo (que não é pequeno e vale como decreto para muita gente) para gerar, antes da estréia, a expectativa de um trabalho praticamente indiscutível.
Se Caetano, que é o maior artista vivo do país, acha o máximo, só pode ser o máximo.
Mas... e se não for?
A discussão vai, novamente, para o Fla-Flu, quando poderia ser mais matizada e iluminadora.

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