São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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Relatório pede atenção ao uso do amianto

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Ministério da Saúde tem em mãos um relatório detalhado de especialistas recomendando que se façam estudos para descobrir a dimensão dos problemas de saúde pública causados pelo uso do amianto no Brasil.
O envio do relatório coincide com a proibição do uso do mineral na França e antecipa a discussão do tema, que deve ser um dos mais debatidos no 25º Congresso Internacional de Saúde Ocupacional, que começa em uma semana, na Suécia.
"Em vários países o amianto está sendo proibido. Chegou a hora de o Brasil dar atenção a esse problema", diz um dos principais especialistas brasileiros nos problemas causados pelo amianto, Diogo Pupo Nogueira, professor-emérito da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de SP).
Firmes e flexíveis
O nome amianto, ou asbesto, é dado a um grupo de minerais caracterizados por apresentarem fibras firmes mas flexíveis, capazes de resistir ao calor e ao ataque de substâncias químicas, e passíveis de serem incorporadas em materiais tão diversos como roupas, telhas ou tubos de cimento.
A aplicação mais fácil de se encontrar é na construção civil, no chamado cimento-amianto, do qual são feitas telhas, tubos e placas. Também é comum na indústria de componentes de freios de automóveis, trens ou aviões.
Essas fibras são facilmente quebráveis e "friáveis", isto é, viram uma poeira que flutua no ar e se prende a roupas e cabelos, além de serem ingeríveis ou inaláveis.
Uma vez instalada no organismo, a partícula de amianto tende a ficar ali indefinidamente e causar problemas graves de saúde.
O relatório enviado ao Ministério da Saúde fala das "pneumoconioses", doenças causadas por ingestão de poeira. No caso específico da exposição ao amianto, a doença é a chamada "asbestose", enrijecimento interno dos pulmões que traz grande dificuldade na respiração e aumenta o risco de doenças pulmonares. Ainda mais grave é a associação do asbesto com o câncer do pulmão.
O primeiro caso de asbestose no Brasil foi relatado por Pupo Nogueira nos anos 70. "Nunca ninguém tinha verificado isso, apesar de o Brasil ter mineração e usar muito o amianto", diz ele.
Desde então foram progressivamente achados mais casos, embora ainda não se tenha uma idéia da dimensão real do problema no país.
Descobrir a dimensão do problema no Brasil é uma das tarefas sugeridas aos ministérios da Saúde, do Trabalho e das Minas e Energia.
Nos EUA e Europa era comum usar amianto como isolante térmica em casas.

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