São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cientistas estudam genes pré-históricos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Brigham Young University, em Povo, Utah (EUA), mantém laboratório chefiado pelo geneticista Scott R. Woodwar, dedicado a pesquisa e estudo de amostras muito antigas de DNA (ácido desoxirribonucléico, matéria-prima do gene).
Não é ele o único cientista a trilhar essa linha de trabalho, a qual tem, na verdade, diversos concorrentes, entre os quais o pioneiro Svante Paalo, da Universidade de Munique (Alemanha), e Edward Golenberg, da Wayne State University, que extraiu DNA de folha de magnólia de 20 milhões de anos.
Woodward entende que nos fósseis encontrados em veios carboníferos, formados a partir de turfeiras, o oxigênio é impedido de penetrar no interior dos ossos e deteriorar os tecidos e seu DNA.
Em "Science" (266, 1229), publicou os resultados de suas pesquisas em fragmentos de ossos de suposto dinossauro (o único animal grande existente naquela época) cujo envoltório, camada de arenito, permitia calcular rigorosamente a idade de 80 milhões de anos. O animal estava no teto de uma mina de carvão.
Em seu artigo, o cientista comunica a extração de DNA desses fragmentos de ossos, cuja sequência é diferente da de qualquer animal moderno. Mas alguns outros cientistas lembram que, se o esqueleto fosse de dinossauro, o DNA deveria revelar alguma semelhança com a de parentes atuais daqueles antigos répteis, como crocodilos e aves. Certos investigadores duvidam que o DNA extraído seja de fato antigo, enquanto outros estranham que a delicada molécula possa durar milhões de anos.
As sequências foram comparadas com coleções especiais de DNA de muitos animais modernos. Elas não se parecem com as sequências conhecidas de DNA humano ou microbiano.
São pelo menos 30% diferentes das de aves, répteis e mamíferos modernos. Outros sustentam que as semelhanças deveriam ser maiores com as sequências aviárias, pois a noção mais corrente é a da relação de descendência entre dinossauros e aves.
Salienta Ana Gibbons na mesma revista (pág. 1159) a opinião de Joel Cracraft, do American Museum of Natural History, segundo a qual o autor da descoberta deveria demonstrar como, pelas sucessivas substituições de sequências, o DNA dos dinossauros, ou do suposto dinossauro, se teria transformado no de ave. Há também os que lembram a possibilidade de erro na complexa reação da polimerase em material tão duvidoso.
Se, todavia, outros laboratórios confirmarem, em amostras do material de Woodward, as sequências de DNA por ele extraídas, muitas dúvidas se dissiparão. Por enquanto o julgamento está na realidade suspenso, e não se sabe se o animal era mesmo um dinossauro e, caso positivo, se era precursor de réptil ou de ave.

Texto Anterior: Artista pré-histórico europeu preferia pintar rocha ao ar livre
Próximo Texto: Por que existem pessoas parecidas sem ser gêmeas?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.