São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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Conheça o escritor

NELSON ASCHER

Nascimento - 13 de abril de 1906, em Foxrock, perto de Dublin, Irlanda, quando esta ainda pertencia inteiramente à Inglaterra. Sua família era protestante num país católico e relativamente abastada numa sociedade pobre.
Começo da carreira literária - Conhece em Paris seu conterrâneo James Joyce (28), publica um artigo sobre ele em 29 e colabora numa tradução coletiva de seu "Anna Livia Plurabelle" (trecho de "Finnegans Wake") para o francês no ano seguinte, quando publica também seu primeiro conto numa revista. Abandona o ensino em 31, desapontando sua família. Escreve ficção, poesia, ensaio e um pequeno livro sobre Proust (traduzido no Brasil por Arthur Nestrovski, ed. L&PM). Publica, em Londres, "More Pricks than Kicks", contos (34). Fixa residência em Paris (37). Publica "Murphy" (38), romance rejeitado por 42 editoras.
Guerra - Com a ocupação da França pelos alemães (40), colabora com a resistência antinazista. Finda a guerra, trabalha para a Cruz Vermelha Irlandesa na Normandia (45) como intérprete.
Maturidade e consagração - Durante a guerra, trabalha no romance "Watt". Entre 46-48 escreve os romances "Molloy", "Mercier et Camier", "Malone Morre" (tradução brasileira de Paulo Leminski) e a peça de teatro "Eleuthéria". Traduz para o inglês entre 49 e 50 uma antologia de poesia mexicana organizada por Octavio Paz. Entre outubro de 48 e janeiro de 49 escreve sua peça mais famosa, "Esperando Godot", em francês. Ela estréia no Théâtre de Babylone, Paris, em 5 de janeiro de 53, ano também da publicação de "L'Innommable" ("O Inominável", romance que, com "Molloy" e "Malone", compõe a "Trilogia", sua principal obra de ficção). Ganha em 69 o Nobel de Literatura. Vive em Paris até morrer, traduzido em todo o mundo, em 89.
Influências de - Descartes, Joyce, a matemática.
Influências sobre - Harold Pinter; o dramaturgo, ex-líder dissidente e em seguida primeiro-ministro tcheco, Vaclav Havel (a quem dedicou "Catastrophe"); o teatro contemporâneo em geral.
Frases típicas - "Não me interessam heroísmo e sucesso. Eu me interesso apenas pelo fracasso." Beckett teria dito, nos anos 30, a Peggy Gyggenheim: "Estou morto e não tenho sentimentos humanos".
Mania excêntrica - Escrever todos os seus livros ou textos duas vezes, uma em francês, outra em inglês (não necessariamente nessa ordem).
Recepção crítica -Volumosíssima. Vale a pena começar pelo "Beckett", de A. Alvarez (Fontana Modern Masters) e "A Reader's Guide to Samuel Beckett", de Hugh Kenner (FSG).
Ressalvas - "Eu sempre considerei seu bravo ensaio sobre Proust um modelo daquilo que os livros dessa espécie não deveriam ser, pois ele é obscuro, pedante no estilo e não está, como caberia à crítica, a serviço da obra que pretende elucidar. Ainda assim, trata-se do produto de uma mente estranha e bem-dotada, e sua perversidade é do tipo que os escritores -não os charlatães- exibem de vez em quando." (Frank Kermode)
Quem é Godot - "Godot é parte do nome de uma rua parisiense; é o nome, escrito como Godeau, de um ciclista francês; é o nome (escrito não sei como) de um piloto da Air France em cujas mãos Beckett teve a infelicidade de cruzar o canal da Mancha. 'O capitão Godot lhe dá as boas-vindas', disse a voz no alto-falante. No aeroporto de Heathrow, um Beckett lívido pediu imediatamente uma bebida." (Hugh Kenner).
Montagem mais estranha de Godot - Na prisão de San Quentin (EUA), por presidiários.

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