São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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Serra busca polarizar com Pitta, e Covas vê adversário como carioca

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

José Serra (PSDB) começou ontem a bater mais pesado em Celso Pitta (PPB), como parte da tática que faz do pepebista o adversário preferencial dos tucanos na corrida pela Prefeitura de São Paulo.
O candidato do PSDB disse em comício em Vila Nova Esperança, em Pirituba (zona norte), que "a população está se dando conta que ela não pode viver dentro do programa de televisão do Pitta".
Qualificou a propaganda do pepebista de "irreal". Referiu-se de forma pejorativa ao "Fura-Fila" (projeto de ônibus suspenso) como "o trem que voa".
Disse que Pitta mostra em seu horário eleitoral "escolas com padrão suíço" e atendimento em ambulatórios "que nada deixam a dever a hospitais como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês".
O governador Mário Covas, um dos oradores do comício, procurou atribuir a Pitta a imagem de cidadão estranho aos paulistanos.
Disse ter ido recentemente ao Rio e ouvido a seguinte frase: "Esses paulistas são uns trouxas; há cinco anos um cara foi pra lá e agora querem fazer dele prefeito".
O líder do PSDB na Assembléia Legislativa, Walter Feldman, atirou na mesma direção. Pitta, afirmou ele,"não torce nem para o Corinthians e nem para o Palmeiras. Torce para o Flamengo".
A equipe tucana aposta que está ocorrendo uma queda das intenções de voto de Pitta, exemplificada pela perda de apoio na classe média e, sobretudo, junto aos eleitores de escolaridade superior.
Isso viabilizaria a escolha do prefeito só no segundo turno. Paralelamente, o PSDB acredita ter fôlego para, antes do primeiro turno, ultrapassar Luiza Erundina (PT).
Por esse cenário otimista, Serra não estaria eliminado do páreo com os demais concorrentes, a 3 de outubro, e também seria um dos finalistas a 15 de novembro.
Serra explica de forma mais prosaica seus ataques a Pitta. "É natural, se estamos disputando a prefeitura, que se avalie a administração e o candidato do prefeito."
Indagado se a desqualificação de um adversário pelo fato de ele ser carioca não permitiria que o PPB rapidamente rebatesse a bola -FHC também nasceu no Rio e se elegeu senador por São Paulo-, Serra respondeu:
"O que está em jogo é a familiaridade com os problemas da cidade, que ele (Pitta) não tem. Ninguém fala a mesma coisa da (paraibana) Erundina, que está há muitos anos integrada."
Como se vê, sobrou até uma defesa de Erundina, que aparentemente saiu por ato falho e não como frase do roteiro.
O senador Romeu Tuma (PSL), aliado de Serra e que também participou do comício de ontem, disse que Maluf se comporta como um "senhor de engenho" e trata seu próprio candidato "de forma escravagista".
Nas mãos de Maluf, disse Tuma, Pitta se tornou um "Xico da Silva", em analogia de gosto duvidoso com a escrava Xica da Silva.
Ela viveu em Diamantina (MG), no século 18, ganhou alforria e se tornou uma grande dama.

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