São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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Tensão volta ao Pontal do Paranapanema

FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

O líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema, José Rainha Júnior, acusou ontem funcionários da fazenda Santa Rita, no Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de São Paulo), de terem feito vários disparos durante toda a madrugada contra o acampamento do MST localizado próximo à propriedade.
"A situação agora (ontem) é tensa e há risco de confronto na madrugada (de hoje). A jagunçada continua a postos, e a polícia não está fazendo nada", afirmou.
Os disparos, segundo Rainha, começaram por volta das 22h de anteontem e foram feitos por 18 homens armados. O grupo estaria seguindo ordens do fazendeiro Marcelo Negrão, dono da área.
"Foi um desespero no acampamento. O pessoal começou a correr de um lado para outro sem saber o que fazer. Várias barracas foram atingidas, mas, por sorte, ninguém saiu machucado", afirmou.
Segundo o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), os disparos continuaram durante a madrugada.
Ontem de manhã, as famílias invadiram a fazenda e iniciaram o plantio de mandioca. Por volta das 7h, a situação voltou a ficar tensa.
"O pessoal da fazenda começou a atirar de novo, dizendo que era para sairmos. E, dessa vez, o tiroteio foi na presença de um carro da PM, que ficou assistindo sem fazer nada", afirmou Rainha.
A fazenda Santa Rita tem, segundo o MST, 4.800 alqueires e estava sendo ocupada desde dezembro por 1.300 famílias.
Na semana passada, uma liminar de reintegração de posse concedida em favor do dono da área fez com que os sem-terra saíssem e montassem acampamento perto de uma ferrovia desativada.
O delegado de Mirante do Paranapanema, Eli Sanchez, disse que os funcionários da fazenda fizeram só "dois disparos para o alto".
"Os PMs evitaram o confronto. A PM vai permanecer em vigília durante a madrugada, para garantir a segurança de todos", disse. O delegado abriu inquérito.
O comandante da PM de Teodoro Sampaio (que acompanha o caso), Renato Sanomya, afirmou que os funcionários reagiram à ameaça dos sem-terra. "Houve disparos, não contra o acampamento, mas contra um grupo de sem-terra que entrou à força na fazenda."
Sanomya disse que dois PMs passarão a madrugada no local. "A situação está mais tranquila. Dois policiais são suficientes", afirmou.
A Agência Folha não conseguiu falar com Negrão. Ele não estava em sua casa nem no escritório, ambos em Presidente Prudente.

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