São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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Cai venda de armas, apesar da violência

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

"Fabricar armas já foi um bom negócio", diz Carlos Alberto Paranhos Murgel, 58, presidente da Forjas Taurus, maior fabricante nacional de revólveres e pistolas.
A venda legal de armas tem caído, apesar do crescimento da violência nos grandes centros.
O maior concorrente da indústria nacional é o contrabando, inclusive de armas que a própria indústria exporta e que retornam clandestinamente ao país, evitando-se o pagamento de impostos.
Calcula-se que sete em cada dez pessoas armadas não têm autorização para o porte ou carregam armamento sem registro.
Cerca de 50% das armas registradas são compradas por empresas ou agentes de segurança. As polícias Civil e Militar -sem recursos- há anos reduziram suas compras.
Proteção ao protetor
"As Forças Armadas não compram armas há vários anos. As forças policiais também não compram há algum tempo", diz Murgel. "Nós já chegamos a vender perto de 50% da produção para as polícias Civil e Militar", diz.
Para compensar, cada policial tem autorização para comprar uma arma, financiada e subsidiada, diretamente do fabricante.
"É o mínimo que a sociedade pode fazer para proteger aqueles que a protegem", diz Murgel.
Estudo da Lafis, empresa de consultoria de investimentos, calcula em US$ 300 milhões o faturamento anual das principais indústrias de armas leves: Forjas Taurus, Amadeo Rossi, CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) e Imbel, além de pequenos fabricantes de armas de caça, como a Boito.
Prejuízos
A Forjas Taurus -que detém 70% do mercado brasileiro de armas de cano curto- operou pela primeira vez no vermelho em 1995. Encerrou o primeiro semestre deste ano com perdas reduzidas a R$ 423 mil, graças à forte diminuição das despesas. Seu quadro de funcionários foi enxugado: de 1.077, em dezembro passado, para 924, em julho último.
A Amadeo Rossi, única concorrente no ramo de revólveres, fechou o semestre com prejuízo de R$ 2 milhões. Hoje, o número de funcionários é 27% inferior ao de julho do ano passado.
As vendas totais de armas fabricadas no país chegam perto de 1 milhão de unidades por ano. O mercado brasileiro de armas gira em torno de 120 mil unidades por ano, em comparação com 220 mil há dez anos. Há 1.200 lojas de armas legais, das quais 200 estão localizadas em São Paulo.
Munição curta
Com o Plano Real, houve ligeira reativação do mercado interno em 1994, reflexo da preocupação com o crime organizado. Mas essa recuperação não se manteve em 1995 e foi insuficiente para compensar as dificuldades nas exportações (por causa da valorização do real).
Além dos impostos (que respondem por cerca de 42% do preço final da arma), os fabricantes alegam que a restrição ao crédito, a perda do poder aquisitivo e as dificuldades impostas à comercialização inibem a venda legal de armas.
Em 1995, o Brasil exportou US$ 76,42 milhões em armas e munições, com queda de 19,94% em relação a 1994. As vendas totais da Forjas Taurus caíram 28,3% em volume físico e 14% em dólar.
As armas da Taurus têm grande aceitação nos Estados Unidos, seu principal mercado externo, onde mantém uma empresa controlada.
No primeiro semestre deste ano, a Taurus registrou diminuição de 43,6% na produção de armas curtas em relação ao mesmo período de 1995 e queda de 23,8% nas vendas físicas no período.
O volume de armas vendidas pela Amadeo Rossi no segundo trimestre foi 34,4% inferior ao do mesmo trimestre do ano anterior.
Projeto
Com as restrições à concessão de porte de arma, os fabricantes acreditam que haverá queda de 40% nas vendas internas neste ano, diz a Lafis. Essa previsão é anterior ao projeto, em tramitação na Câmara, que define como crime o porte ilegal de arma.
Pelo projeto, a pessoa que portar arma sem registro pode pegar de um a dois anos de cadeia, sem direito a fiança. O projeto deverá ser votado na quarta-feira. A previsão é que não haverá maiores obstáculos à sua aprovação.

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