São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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A quatro mãos (11)

WASHINGTON OLIVETTO; ALEXANDRE MACHADO

WASHINGTON OLIVETTO e ALEXANDRE MACHADO
O diálogo bem-humorado, tirado da vida real, voltou com tudo à televisão.
Tanto na programação quanto na propaganda.
"A Comédia da Vida Privada" e "Sai de Baixo" são grandes campeões de audiência. O "casal Unibanco" e o "casal Unibanco Seguros" são grandes líderes de "recall".
Convidei Alexandre Machado para comentar o assunto.
Alexandre é um dos redatores que melhor escreve diálogos da propaganda brasileira. É também autor de alguns episódios de "A Comédia da Vida Privada" e já foi a Eleonora V. Vorsky do "Planeta Diário".
Aberto ao diálogo, no "A quatro mãos" de hoje, com vocês, Alexandre Machado.
*
E então? Então o quê? O que é que você acha? Sobre o quê? Sobre a volta do diálogo. Ué... Sei lá... Ele voltou de onde? É sério. Desculpa. Você não consegue conversar sem fazer piada? Já pedi desculpa. Tudo bem, esquece. Não, vamos falar sério, mas não entendi direito a sua pergunta.
A volta do diálogo. Você percebeu? Mais ou menos... Eu ando meio sem tempo de ler os jornais. Estou falando da televisão. Ah, da televisão... O diálogo voltou pra televisão? Voltou. Mas novela é diálogo, e sempre teve novela. Novela não é diálogo. Claro que é. Não é. Novela é encheção de linguiça. Os atores têm que ficar falando umas bobagens até a hora de alguém beijar alguém, matar alguém, casar com alguém. E essas bobagens não são diálogos? OK, são diálogos, mas não é desse tipo de diálogo que eu estou falando. Sei, e qual é o tipo de diálogo de que você está falando? Lá vem você com as suas ironias... Não, juro que não; só que então o assunto não é "A Volta do Diálogo", é "A Volta de um Certo Tipo de Diálogo".
Odeio quando você faz esse tonzinho. Que tonzinho? Esse tonzinho. De sabichão. Eu fiz tonzinho de sabichão? Fez. Você é que não sabe colocar uma questão da maneira correta. Olha aí, tá vendo? "Eu não sei colocar." E você sabe, não é? Sei. Então: é o sabichão. Agora é você que está com ironia. Eu estava explicando uma coisa e você me interrompeu. Explica, então.
Eu estava falando da volta do diálogo como principal atração. Dos programas nos quais o diálogo é a estrela. Ah... "A Comédia da Vida Privada", "A Vida Como Ela É", "Sai de Baixo"... É, realmente, nesse sentido...
E não é só na TV brasileira, não. Não?. Não. Os programas de maior sucesso nos EUA têm excelentes diálogos: "Friends", "Seinfeld", "Mad About You"...Não conheço. Passa na TV paga por cabo. Eu não tenho. Você não tem TV paga por cabo? Mas todo mundo já tem! Todo mundo menos eu.
Enfim, as pessoas querem ouvir diálogos inteligentes, verdadeiros, genuínos. Diálogo com intenção, entende? Não aquele blablablá de novela. Eu gosto de novela. Eu também. Mas fala a verdade: você não gostava bem mais antigamente? Gostava. É que os escritores de novela não evoluíram junto com o público. O telespectador hoje em dia quer ver diálogos mais verossímeis, mais humanos, não aquela coisa de "eu-te-amo-você-me-ama". Sei, você acha então que é uma tendência... Lá vem você com essa mania de "tendência". Você é que disse! Eu não falei em tendência; tendência é coisa de bicha. Mas, se os melhores programas agora são programas de diálogo, isso configura uma tendência. Tudo bem, então é tendência. Satisfeito?
Pensando bem, eu não acho que seja uma "tendência"... Não acha?! Não. Claro que é! Você tá exagerando. Ah, é? Então me diz: por que alguns dos comerciais de maior sucesso ultimamente são comerciais de diálogo? São? São. Você não tem visto televisão? Não. Não?! Não. É por isso que não dá pra manter um diálogo com você, Claudionor!

Washington Olivetto é presidente e diretor de criação da W/Brasil e Alexandre Machado é redator da W/Brasil.

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