São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996 |
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'Marnie' é um mistério
INÁCIO ARAUJO
Mas, para ser bom cinema, nesse caso, é preciso que ele aconteça à margem da psicanálise, ao contrário de outros tantos filmes de Hitchcock. Todos os indícios, no entanto, levam a ela: a mulher cleptomaníaca, o marido que assume o papel de analista, o trauma infantil. No entanto, a beleza de "Marnie" é a de um melodrama. O rosto crispado de Sean Connery, o marido, o olhar claro, tenso e ausente de Tippi Hedren -por exemplo-, remetem a outra coisa. Esses personagens estão ali, à nossa frente, carne e osso, mas seu espírito está sempre em outro lugar. O espectador é deslocado, incessantemente. A cena que vê não é a mesma que os atores vivenciam. O temor e a ansiedade que sente não coincide com os sentidos pelas figuras na tela. É como se Hitchcock desmontasse a idéia clássica de identidade espectador-personagem. Ao menos isso é o que se pode sentir hoje em relação a este estranho filme, que a cada visão parece se transformar diabolicamente, sem nunca revelar de todo seus segredos. (IA) Texto Anterior: Busby Berkeley troca balés delirantes pela sensatez Próximo Texto: Lou Reed evoca Velvet hoje em São Paulo Índice |
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