São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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Vencedor celebra líder irlandês assassinado

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

"Michael Collins", de Neil Jordan, é um Leão de Ouro corajoso e atípico concedido pelo júri presidido por Roman Polanski.
Não é sempre que um festival como Veneza consagra e um grande estúdio hollywoodiano (Warner) banca uma cinebiografia sobre um personagem tão polêmico.
Michael Collins (1890-1922) foi um dos líderes históricos da luta pela independência da Irlanda.
Patriarca do IRA (Exército Revolucionário Irlandês), foi um chefe militar (terrorista para alguns) antes de se tornar uma autoridade política.
Collins tinha cabeça, coração e punhos, Valera era todo cérebro.
Sediado em Dublin, enquanto Valera partiu para os EUA buscando apoio, Collins foi responsável pela ofensiva armada que conseguiu extrair dos ingleses no início dos anos 20 o tratado de criação do Estado Livre da Irlanda, que dividiu o país ao meio, exigiu fidelidade à coroa britânica, mas representou um passo histórico.
Como negociador do tratado, seguindo indicação do presidente Valera, Collins viu seu carisma corroído pela parcialidade da vitória. Valera passou para a oposição, rompeu com a autoridade representada por Collins e detonou uma guerra civil entre os irlandeses.
Uma obscura cilada armada por seus comparsas liquidava Collins em 1922, a caminho de um encontro visando a pacificação.
É como um misto de Ken Loach ("Terra e Liberdade") e David Lean ("Lawrence da Arábia") que Jordan escreveu e dirigiu o ambicioso épico, por 13 anos projetado.
Não há paralelo em sua filmografia ("Traídos pelo Desejo", "Mona Lisa"), em qualidade ou dimensão.
O talentoso cineasta e romancista que alternava delicados e deliciosos projetos irlandeses ("O Milagre") a estranhas incursões hollywoodianas ("Entrevista com o Vampiro") combina aqui as duas faces e dá um belo salto.
Jordan reuniu um elenco de arromba: Liam Neeson como Collins, Julia Roberts como sua amada Kitty, Aidan Quinn como o braço direito Harry, Stephen Rea como o espião Broy e um avassalador Alan Rickman fazendo Valera.
Sinead O'Connor comanda uma trilha de arrepiar, composta por Elliot Goldenthal.
"Michael Collins" é um filme de feitura clássica, engajado mas romântico, algo na linha "Reds", historicamente mais acurado.
Grandes personagens merecem grandes filmes e Neil Jordan o fez. A excepcional Veneza-96 encontrou um vencedor à altura.

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