São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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Do cartão postal ao cartão social

CARLOS SIMÕES

Curitiba é, sem dúvida, uma boa cidade. Essa condição foi alcançada não pelo trabalho de um grupo de pessoas que, de certa forma, assumem a posição de criadoras, mas pela somatória do esforço participativo da comunidade curitibana.
Apesar de ter belos ícones, como o Jardim Botânico e a Ópera de Arame, Curitiba tem péssimos indicadores sociais. Eles mostram problemas iguais aos de tantas outras grandes cidades brasileiras. O atual Plano Diretor da cidade, feito na década de 60 pelo urbanista Jorge Wilheim, está hoje defasado em mais de 600 mil habitantes, que são os excluídos da capital paranaense.
Aceitei ser candidato a prefeito pela coligação PSDB-PPS por ter a certeza de que poderei, a partir da prefeitura e em parceria com os vereadores e com os segmentos organizados da sociedade civil, operar de maneira mais rápida, consciente e eficaz as transformações sociais que o nosso povo aguarda.
Ou seja, poderemos realizar juntos a cidadania curitibana. Todas as ações que a coligação Nossos Caminhos vislumbra para tornar Curitiba uma cidade mais perfeita, completa e, principalmente, justa serão implementadas dentro de uma gestão participativa e co-responsável. A comunidade, apoiada pelo poder público, tem forças insuspeitas para resolver os problemas sociais. Basta não ser abafada, atrelada ou silenciada.
A cidade de Curitiba transformou-se em atrativo pólo de migrações. Não foi reestruturada para receber esse acréscimo de contingente populacional e, com isso, está sofrendo hoje os problemas dele decorrentes: a pobreza, que permeia especialmente a periferia; o sistema de transporte público, que está a ponto de entrar em colapso; o acesso à habitação e à saúde, que tornou-se um feito penoso; o desequilíbrio entre o centro e as periferias; o aumento do número de crianças subcuidadas.
A administração municipal não consegue mais dar respostas adequadas ao desenvolvimento das funções urbanas. Nosso programa de governo está assentado no restabelecimento do equilíbrio perdido, desfazendo o abismo entre a qualidade de vida dos bairros mais centrais e a dos bairros periféricos.
Reequilibrar as oportunidades de geração de riqueza, abrindo espaço para que todo cidadão seja dignamente inserido no sistema produtivo, propiciando a distribuição equitativa de renda, é nosso objetivo maior. Iniciaremos esse processo por meio de uma evolução do Plano Diretor, pela organização de dez comunidades de bairros em torno de áreas centrais, onde será criado o suporte necessário para consolidar a vida própria, autônoma e onde as pessoas terão direito a todos os serviços públicos com qualidade.
Essas áreas centrais proporcionarão aos cidadãos acesso a mecanismos capazes de alavancar o progresso e a geração de riqueza, criando oportunidades de crescimento econômico das famílias locais. Nesses centros, será dado apoio à criação, à estruturação e ao desenvolvimento do maior número possível de microempresas de bairro e produção doméstica, aproveitando as potencialidades locais e a mão-de-obra disponíveis. Somente assim poderá ser restabelecido o equilíbrio físico da cidade, bem como o equilíbrio econômico e social dos cidadãos.
Outras diretrizes básicas de atuação serão a educação, com ênfase especial à melhoria das creches e do ensino básico; a habitação e a saúde. Ou seja, a área social será sempre priorizada nas ações de nossa administração e no orçamento do município.
É assim que, como prefeito, junto com a minha equipe e toda a comunidade, quero transformar a Curitiba do cartão postal na Curitiba do cartão social.

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