São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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PRIMEIROS FRUTOS

Fazer política externa não é fácil. Principalmente num país cuja tradição é de relativo alheamento às relações internacionais, em que a política doméstica ocupa quase completamente as atenções, como no Brasil.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, que a rigor iniciou uma trajetória fulminante no Executivo exatamente como ministro das Relações Exteriores, passou um tempo considerável dos primeiros meses de sua gestão viajando ao exterior.
Por razões variadas, que certamente vão além do "caipirismo" recentemente ironizado por FHC, as viagens provocaram em vários setores da opinião pública um quê de repulsa.
Talvez houvesse até mesmo alguma associação entre o "turismo presidencial" de FHC e a fase igualmente marcante, no início da gestão Collor, de visitas às capitais do mundo.
Agora, entretanto, mesmo os mais céticos e críticos poderão reconhecer que surgem alguns frutos, espera-se que os primeiros, do que se afigura como uma vigorosa política externa.
Em primeiro lugar está o crescimento do Mercosul como projeto regional. É verdade que esse avanço deve-se em boa medida à imobilização da política externa norte-americana frente à América Latina nesses meses prévios à eleição presidencial. A agenda dos EUA limita-se agora a drogas, armas e Cuba.
Mas seria de uma ingenuidade brutal, senão má-fé, ignorar que o governo FHC está consolidando o projeto de convergência gradual e negociada entre os projetos de integração regional nas Américas.
As visitas do primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto, agora do presidente coreano, Kim Young-sam e, proximamente, do chanceler alemão, Helmut Kohl, podem ser vistas também como frutos do esforço diplomático dos últimos meses.
Não se trata, aliás, de mera retribuição. Em especial no caso dos asiáticos, foram programados roteiros incluindo vários países da região. Ou seja, pode-se talvez arriscar algum otimismo em termos de mudança na percepção que os governos asiáticos têm da América Latina e do processo de integração em curso.
Claro que nem tudo é pacífico. Os mesmos Japão e Coréia contestam a política comercial brasileira. A política dos EUA com relação à América Latina e o Brasil, passadas as eleições, é uma incógnita total.
O "turismo presidencial", entretanto, pelo menos criou uma visibilidade e um terreno comum onde é possível até, se e quando for o caso, discordar negociando.

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