São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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Export or die

ANTONIO DELFIM NETTO

Há uma enorme tranquilidade no ar. Um brasilianista amigo do governo disse, em inglês, que sem um aumento das exportações não temos futuro. Todos sabemos que a área econômica tem dificuldade em entender o português. Mas ela não pode ignorar o inglês.
Estamos salvos! Aumenta-se o crédito às exportações, vamos corretamente desonerá-las do ICMS e damos uma misteriosa colher de chá para os contratos de ACC "não performados" (sic), que tem todo o jeitão de esconder mais uma trapalhada. Sem dúvida tudo isso ajuda, mas a que custo?
Que o problema é mais grave do que o governo quer, pode ser visto abaixo, onde se dá a taxa de crescimento das exportações de nossos principais competidores:

Nos últimos dois anos o crescimento de nossas exportações foi apenas ligeiramente superior a 1/3 do aumento registrado por nossos competidores! Perdemos "market share" que será difícil reconquistar sem alguma redução de nossas relações de troca.
Mas o fato mais preocupante revelado pela tabela é o seguinte: em 1995 as exportações mundiais cresceram favorecidas pela redução tarifária produzida pela "rodada do Uruguai" e pela enorme valorização do iene frente ao dólar (porque os asiáticos exportam para o Japão em ienes). Agora em 1996 tudo mudou: o espaço aberto pela rodada do Uruguai diminuiu e o iene desvalorizou-se. Como vemos, as exportações dos asiáticos perderam fôlego. O Brasil é, tragicamente, o lanterninha da tabela. Os nossos exportadores foram fortemente prejudicados pela valorização do real e vão ter de enfrentar agora uma dura competição.
O brasilianista tem razão quando diz "exportar ou morrer", mas erra terrivelmente quando diz que as "exportações tem que crescer 1% ou 2% acima do crescimento do PIB". Sem exportações crescendo a taxas de 12% a 14% ao ano, é muito difícil imaginar uma expansão do PIB da ordem de 6% ao ano sem criar problemas para o balanço em conta corrente. Ah, Deus meu, temos de providenciar alguém para dizer isso em inglês!

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