São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 1996
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Heroína mais barata é ameaça ao Brasil

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A heroína está preocupando autoridades brasileiras. Há um mês houve a primeira internação de uma pessoa que se tornou viciada na droga, adquirida em São Paulo.
Além disso, recentes plantações de papoula (planta que produz o ópio, do qual é extraída a heroína) na Colômbia prometem baixar o preço da droga, que antes era trazida da Europa e da Ásia.
O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da Universidade Federal de São Paulo, supervisiona o tratamento de um homem de 32 anos que se tornou dependente de heroína comprada no bairro da Liberdade (região central).
Laranjeira participa do seminário "Drogas - Debate Multidisciplinar", que teve início ontem no Memorial da América Latina, em São Paulo. O evento termina na sexta-feira.
"A novidade desse caso é que, pela primeira vez em São Paulo, atendemos uma pessoa que se tornou dependente de heroína adquirida na cidade. Já ocorreram casos de pessoas que adquiriram o vício fora do país e precisaram de tratamento aqui", disse Laranjeira.
Segundo ele, esse caso "mostra que a heroína está chegando e que poderá resultar na nova epidemia de droga no país".
O delegado Victor Vasconcellos Lutti, da Divisão de Prevenção e Educação do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), disse que a papoula começou a ser plantada recentemente na Colômbia depois de um acordo entre os cartéis asiáticos e sul-americanos, que "trocaram folha de cocaína por papoula".
"Os cartéis colombianos estão colhendo as primeiras safras da papoula. A heroína, derivada dessa planta, tende a baixar o preço no Brasil, devido à diminuição da distância do tráfico. Isso nos preocupa", disse Lutti.
O Denarc não tem registro de apreensões de heroína este ano. A última apreensão da droga pela Polícia Federal foi em 1995.
"Há possibilidade de a heroína ser incluída na rota do narcotráfico brasileiro e ser usada como escambo, na troca por veículos, aviões ou outras drogas, devido a seu valor", disse o presidente do Confen (Conselho Federal de Entorpecentes), Luiz Matias Flack, que representou o ministro Nelson Jobim no seminário de drogas ontem em São Paulo.
Segundo ele, o comércio ilegal de drogas movimenta US$ 500 bilhões por ano -o que representa, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), de 10% a 13% do comércio mundial de produtos legais.
Flack afirmou que 95% do tráfico internacional de drogas depende da venda de cocaína e de heroína.

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