São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Lei do passe: boa ou ruim, ela está aí

JOSÉ CARLOS BRUNORO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é mais hora de discutir se a nova lei do passe é boa ou ruim. Ela é um fato consumado, e o importante passa a ser como será o futuro das partes envolvidas: jogadores, clubes e o próprio futebol.
A curto prazo, no entanto, haverá muita discussão. Caberá ao Ministério dos Esportes o processo de elucidação da lei, tanto a jogadores quanto a dirigentes, além de possíveis ajustes importantes para acertar os caminhos definitivos.
Com relação aos clubes, não resta dúvida que deverá haver uma adaptação à nova situação, com a adoção de contratos mais longos, acima de três anos, o que, no momento, a lei não permite. Quem irá sofrer mais serão os clubes que fazem contratos por seis meses, com jogadores emprestados.
Com a nova lei, os jogadores sem clubes usarão essas agremiações apenas como vitrine, saindo assim que receberem proposta melhor. Com certeza, o nível técnico dessas equipes irá baixar cada vez mais.
Outro aspecto importante e perigoso da lei, que não podemos concordar e que terá que ser revisto imediatamente, é com relação ao termo "semiprofissionais", referindo-se ao jogadores entre 16 e 20 anos. Ora, qualquer forma de pagamento, desde uma ajuda de custo, até uma bolsa de estudo, pode gerar discussões judiciais sobre a "profissionalização" do atleta.
Deve haver a definição imediata de quem é e quem não é profissional, abolindo-se o termo "semiprofissional", sob pena de os clubes não terem mais segurança para investirem em categorias de base.
Os atletas, por sua vez, também terão que mudar a forma de negociação de seus contratos, principalmente com relação aos seus próprios assessoramentos neste momento.
Uma das primeiras coisas a entender é que eles não serão "donos" de seus passes, simplesmente porque ele deixa de existir. Como terão vínculos mais longos com os clubes, eles próprios terão que ter mais informações econômicas sobre o país, em especial com relação à inflação. Seus procuradores terão que ser muito bem escolhidos para que não haja possibilidade de corrupção, havendo o ganho do empresário pelos dois lados: atletas e, por baixo dos panos, clubes.
Já com relação ao futuro do próprio futebol, a nova lei gerará um enxugamento maior no número de clubes, que também terão que deixar seus interesses particulares de lado e partir para uma maior união, garantindo seus interesses comuns. Entre eles, a implantação de melhores calendários e a consequente melhoria da qualidade das competições.
Passa por essa discussão uma avaliação mais séria dos campeonatos de primeira e segunda divisões, que deverão ter importâncias muito próximas, já que a redução das primeiras divisões (em nossa opinião, dez clubes nos regionais e de 18 a 20 para o nacional) gerarão segundas divisões com clubes de muita tradição e competitividade.
Além disso tudo, os clubes terão que rever as suas estratégias de captação de recursos, reestudando sua exploração de imagem, de novas mídias e de outras fontes de receitas alternativas a serem definidas com muita competência e criatividade.

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