São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996 |
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Santos vê Mário de Andrade musicado
JOÃO BATISTA NATALI
O texto, sobre a crise da cafeicultura no início dos anos 30, estava pronto desde 1942, mas só agora foi musicado. O espetáculo traz a direção cênica de Fernando Peixoto e terá récitas também amanhã e domingo. É uma produção da prefeitura local. Eis alguns trechos da entrevista à Folha do compositor alemão, radicado no Brasil desde 1937. * Folha - O sr. chegou a ter algum contato pessoal com Mário de Andrade? Hans Joachim Koellreutter - Falei com ele várias vezes, principalmente sobre o grupo Música Viva (coletivo de música experimental a partir dos anos 40). Folha - Foi ele próprio quem mencionou ao sr. a existência dos manuscritos de "Café"? Koellreutter - Quem conversou comigo sobre esse libreto foi a poetisa Oneida Alvarenga, amiga de Mário. Mas, já nos anos 60, o libreto me foi copiado pela compositora Eunice Catunda. Folha - O sr. e Mário de Andrade não concebiam o modernismo da mesma maneira. A erudição dele se direcionava ao nacionalismo... Koellreutter - Não sei se foi bem assim. Há muito mito em torno de Mário de Andrade. Para mim, ele nunca se exprimiu como um nacionalista excludente. Folha - Mas ele não se abriu ao dodecafonismo (equivalência na escala de 12 tons), que passou a ser conhecido com o sr., no Brasil. Koellreutter - Novamente, há nisso um pouco de mito. Quem me levou ao dodecafonismo foi Cláudio Santoro, que era meu discípulo e escreveu serialmente alguns trechos de um trabalho. Foi no Brasil que comecei a escrever dodecafonicamente. Quando cheguei aqui, escrevia tonalmente, no estilo que hoje se chama "berlinense". Folha - Em resumo, não se pode dizer que "Café" será um encontro tardio das duas tendências do modernismo? Koellreutter - É o que dizem, mas não sei. Deveríamos conversar mais detalhadamente. Folha - Para a composição da partitura de "Café", o sr. incorporou algum elemento harmônico saído do repertório popular? Koellreutter - Há dois trechos, como um samba dodecafônico, que trazem o acompanhamento de um conjunto regional. Folha - Sua vivência estreita com a cultura e a música da Índia e do Japão chega a transparecer na partitura de "Café"? Koellreutter - A mistura que eu faço da improvisação e da composição foi aprendida por mim na Índia. Eles têm uma música rigorosamente disciplinada, que misturam genialmente com uma intuição muito grande, o que chamamos de aleatorismo. Em segundo lugar, aprendi no Oriente a superação, a transcendência da forma simétrica. Eu uso em "Café" formas assimétricas. Próximo Texto: Quem é H.J. Koellreutter Índice |
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