São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996 |
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"O Judeu" luta contra os enganos do mundo
MARCELO REZENDE
Em sua história, a biografia do dramaturgo Antônio José da Silva, nascido no Brasil e queimado na Lisboa do século 18 pela inquisição, sob a acusação de professar a fé judaica, sobram exemplos. Dono de um talento incontido para o humor, Antônio José descobre, ainda na infância, "não ser como os outros", nas palavras de sua mãe. Sua diferença se dá porque é um "cristão novo", parte da comunidade de judeus obrigados a renegar a fé para não morrerem nas mãos da repressão católica do período. Antônio José poderia ser definido como "aquele que é um outro", porque, na verdade, não sabe com certeza em que Deus deve acreditar. Mas sua família, mãe, primas e mulher, não tem qualquer dúvida sobre qual a verdadeira fé. E certamente não é a crença imposta. Aliado ao iluminismo da corte portuguesa, representado na figura de Alexandre de Gusmão, conselheiro do rei, Antônio José termina, por uma série de circunstâncias, acusado de "judaísmo". Apesar de jurar a fé católica, esse será seu fim. Mas, além dos desenganos de seu personagem, "O Judeu" se notabilizou por outros atropelos. Ser uma das mais acidentadas produções da história recente do cinema brasileiro. Uma co-produção com Portugal, "O Judeu" teve as filmagens iniciadas em 1988. Durante as várias interrupções, dois de seus principais intérpretes (Felipe Pinheiro e Dina Sfat) morreram sem completar as cenas planejadas. A Embrafilme, que financiaria parte do filme, foi extinta, e o "O Judeu" foi terminado após o aval do Ministério da Cultura. O que restou então de tantos acasos? O que se assiste não é o filme pensado ou desejado, mas apenas o possível. Uma obra ambiciosa em seus temas (a repressão político-religiosa, o artista vitimado por seu tempo) e que sofre de uma ineficácia em explorá-los. O filme certamente não contribuirá em nada para as polêmicas sobre o atual momento do cinema brasileiro, e nem é essa a sua intenção. "O Judeu" pretende apenas ser visto (e na verdade merece) e, assim, sobreviver. Talvez a única metáfora possível sobre a cinematografia nacional. Filme: O Judeu Produção: Brasil-Portugal, 1995 Direção: Jom Tob Azulay Com: Felipe Pinheiro, Dina Sfat, José Lewgoy Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco de Cinema Texto Anterior: Paula entra na Justiça Próximo Texto: Leny Andrade faz homenagem a Tom Índice |
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