São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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NEM HERÓIS NEM BANDIDOS

Pagar indenização a Carlos Lamarca e a Carlos Marighella não significa, nem remotamente, um juízo de valor sobre o comportamento dessas duas figuras tão controvertidas da triste história institucional brasileira dos anos de chumbo.
É fundamental que esse ponto fique absolutamente claro, para evitar interpretações que possam provocar alguma turbulência institucional, por mínima que seja.
O que decidiu a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, pura e simplesmente, é que agentes do poder público tinham condições de prender os dois, mas se excederam. Só isso.
A Comissão não julgou se foram heróis ou bandidos, até porque não está no âmbito de suas atribuições mergulhar na revisão da recente história brasileira.
Os documentos encaminhados à Comissão forneceram à maioria de seus membros (cinco entre sete) a convicção de que os agentes da ordem poderiam ter dominado os dois guerrilheiros sem matá-los.
Qualquer outra interpretação é descabida e, pior, tendente a acentuar a divisão de opiniões a respeito de um período ainda bastante recente na memória nacional.
Para os que entendiam que o único caminho de oposição ao regime militar era a luta armada, Lamarca e Marighella serão sempre heróis, com ou sem indenização para os seus familiares. Para os que apoiaram o ciclo militar, serão sempre delinquentes terroristas, qualquer que seja a decisão de uma Comissão a respeito da maneira como morreram.
É muito provável que nem mesmo a História consiga fornecer um julgamento definitivo sobre cada um deles, capaz de ser aceito por todos ou pela maioria.
Não é o que estava em jogo na reunião da Comissão na quarta-feira. Ela decidiu apenas que foram mortos indevidamente, não que são heróis nem que são bandidos.

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