São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Etnias criam confusão na eleição bósnia

Devem votar hoje 2,9 milhões

DO "THE INDEPENDENT", EM SARAJEVO

A eleição mais caótica e complicada da história moderna da Europa ocorre hoje, quando os bósnios, divididos por etnias, fazem sua primeira eleição depois da guerra.
Eles vão eleger uma Presidência de três pessoas (um sérvio, um muçulmano e um croata), diversas assembléias parlamentares e cantonais (regiões da Bósnia).
Há 2,9 milhões de eleitores e 55 partidos, mas não há competição, pois a maioria dos croatas, muçulmanos e sérvios vão votar para os principais partidos de cada etnia.
A eleição já começou ontem, com cerca de 3.000 policiais e soldados que tiveram permissão para votar antes da maioria.
A mais importante disputa é para Presidência. Momcilo Krajisnik, o braço direito de Radovan Karadzic, acusado por crimes de guerra, é a opção indubitável dos sérvios.
Durante os três anos e meio de guerra, encerrada no final de 1995, os sérvios buscaram a separação em relação ao governo liderado pelos muçulmanos e promoveram campanha de "limpeza étnica".
Alija Izetbegovic, o presidente da Bósnia durante todo o período da guerra, deve ser o escolhido pela maioria dos muçulmanos, e Kresimir Zubak deve ser o nome croata.
Favorito
Há 1,35 milhão de muçulmanos, 1,1 milhão de sérvios e 530 mil croatas registrados, mas Izetbegovic não deve conseguir todo o voto dos muçulmanos -enfrenta o dono de terras Fikret Abdic e o ex-premiê Haris Silajdzic.
A votação ocorre na Federação Muçulmano-Croata e na República Srpska (Sérvia), as duas entidades que compõem a Bósnia.
A República Srspka vota também para presidente hoje, com a atual ocupante do cargo, Biljana Plavsic, como favorita.
Plavsic pregou durante toda a sua campanha a separação da entidade sérvia, mas, contrariada, leu ontem um pedido de desculpas pela campanha, a pedido dos organizadores internacionais do pleito.
Os eleitores sérvios devem eleger ainda uma Assembléia Nacional, o Parlamento dos sérvios.
Junto com os muçulmanos e croatas, votam ainda numa Câmara de Representantes da Bósnia.
Em sua própria entidade, os muçulmanos e croatas devem eleger uma Câmara de Representantes. Devem ainda participar de eleições locais, para os cantões do país.
Há ainda a situação dos refugiados (850 mil), que podem votar no local de onde vieram ou naquele em que estão. Os sérvios devem boicotar a eleição na Federação, mas até 100 mil muçulmanos devem votar na República Srpska.
Os arquitetos da paz no país imaginaram as eleições como salvadoras da Bósnia multiétnica, mas, com todas essas divisões, é possível que aprofundem ainda mais a separação entre as etnias.

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