São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Mulher suspeita que o namorado é gay

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Será que meu namorado é gay? A pergunta já passou muitas vezes pela cabeça de mulheres como a artista plástica Soraya Nunes, 33. Ela suspeita até hoje de dois "ex".
"Com o primeiro, que durou um ano, eu era muito jovem (18) e não havia muito envolvimento sexual", lembra. "Ele também não fazia a menor questão."
Soraya conta que o rapaz era atleta. "Olhando para trás, vejo que ele estava mais para barbie (gay musculoso)", diz.
"Tinha uma vaidade fora do normal", lembra. "Eu era inocente e só prestei atenção quando começaram a comentar."
O tio de Soraya a chamou para conversar "sério". "Fomos a um jantar de família, e meu namorado desmunhecou demais. Meu tio percebeu e me deu o toque", diz.
Com o segundo namorado supostamente gay, um médico, Soraya diz que já era "crescidinha" (25), mas os dois não transavam.
"Começamos a namorar porque havia uma identidade cultural forte", diz. "Ele entendia de arte e adorava cinema. A gente saía e ficava até de madrugada dançando, rindo, era uma ótima companhia."
Eduarda
Soraya terminou os dois namoros na desconfiança. Nunca teve a confirmação de que os rapazes eram gays. "Não por eles", diz.
"Soube por terceiros que o atleta começou a namorar outro atleta", conta. "Quanto ao médico, suspeitei quando ele me disse que tinha conhecido uma 'pessoa' fantástica num congresso", lembra.
"Achei essa história de 'pessoa' muito estranha, e perguntei o nome dela. Ele me disse que era Eduarda, imagina."
A secretária executiva Débora Martins, 37, saiu durante cinco semanas com um rapaz que "é homem com cara de homem", mas que mesmo assim a deixou "com a pulga atrás da orelha".
Débora passou a suspeitar da masculinidade dele no dia em que os dois transaram pela primeira vez. "Depois de uma noitada em um barzinho, emendamos um motel", lembra.
"Tudo começou muito bem na cama, até que no momento do orgasmo ele me pediu que eu o penetrasse com o dedo", conta.
"Comecei a rir, também porque estava meio alta, mas fiz o que ele me pediu."
No dia seguinte, o rapaz tocou no assunto. "Ouvi os motivos dele, mas fiquei desconfiada", diz.
"Hoje em dia a gente não sabe nada sobre as pessoas -também não dá para ficar controlando a vida delas", diz. "Preferi terminar."
Zona erógena
O pedido feito na cama pelo namorado de Débora é mais comum do que se imagina. "Muitas mulheres suspeitam da virilidade do marido, e a maioria fala no desejo de ser penetrado", diz a psicóloga Desirée Mauro, do Instituto Kaplan, de orientação sexual.
Desirée tira dúvidas pelo serviço SOS Sexo (tel. 011/262-8744)."Nas últimas semanas atendi a pelo menos cinco casos assim", diz.
"Explico que não se determina a opção sexual de alguém por atitudes isoladas e tento mostrar que pode haver preconceito -o ânus é uma zona erógena mesmo, e muitos homens têm sensibilidade ali."
A italiana Cinzia Ciano, 31, sabe disso. Ela terminou um namoro de dois anos com um rapaz "bonito, inteligente e muito 'perverso"'.
No começo ela achava maravilhoso, mas depois começou a desconfiar. "Ele vivia rodeado de homens 'ambíguos', e até hoje faz produção de música para um cantor que todo mundo na Itália sabe que é bicha." (leia texto ao lado).

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