São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Violência de usuários de crack é menor

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Comparativamente aos dependentes de álcool ou de cocaína cheirada, os pacientes que fumam crack também tiveram o menor percentual de detenções: 23%, contra 27% dos alcoólatras e 31% dos cocainômanos.
Esses dados foram extraídos de um levantamento inédito que o coordenador do Proad, Dartiu Xavier da Silveira, fez a partir das fichas cadastrais das mais de 3.000 pessoas atendidas pelo programa.
Para fazer a comparação entre os usuários de álcool, cocaína, crack, maconha e outras drogas, ele separou 602 pacientes "puros", que só usavam um tipo de substância.
Comportamento
Não se pode garantir que a pesquisa reflita o comportamento dos usuários de crack de toda a cidade, pois ela se limita aos que procuraram ajuda no Proad.
Mas seu universo é representativo, não só pelo número de pesquisados, como pela divisão social: há pacientes de todas as classes, especialmente das mais pobres.
Os resultados que saíram dos números confirmaram o que o coordenador do Proad já intuía pelo contato diário com os dependentes: o uso de crack não induz mais à violência do que o consumo abusivo de álcool. Talvez até menos.
"A literatura internacional encontra associação importante entre uso de álcool e violência. Entre cocaína e crack não foi encontrada essa correlação", diz Silveira.
"Provavelmente, o grande contingente de delitos relacionados à cocaína e ao crack de que tanto se fala deva-se menos às drogas em si mesmas e muito mais ao fato de serem proibidas", afirma.
Para ele, quanto mais repressiva a política de combate às drogas, maior a criminalidade associada. Ele cita como exemplo a Lei Seca, que proibiu a venda de bebidas nos EUA no início do século.
"Quem era dependente de álcool não parou de beber e ainda se recriou o gangsterismo. Al Capone só existiu por causa da Lei Seca."
Para o psiquiatra, a solução está no meio termo: controle para a venda e para o uso. Como em Liverpool, onde as pessoas comprovadamente dependentes podem pegar, de graça, drogas na farmácia, mediante uma receita médica.
Lá, a criminalidade entre usuários quase desapareceu porque os dependentes não precisavam mais roubar para comprá-la.

Texto Anterior: Álcool mata mais do que o crack em SP
Próximo Texto: Proibição gera violência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.