São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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"Novo" colesterol pode causar infarto

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um "novo" tipo de colesterol -conhecido como Lp(a) ou lipoproteína a- pode ser o grande responsável pelos infartos em pessoas jovens, que têm valores normais dos outros tipos de colesterol.
Esse é o resultado de um estudo publicado no final de agosto no Journal of the American Medical Association, uma das melhores publicações médicas dos EUA.
O estudo diz que níveis elevados de Lp(a) podem dobrar a chance de um homem ter um infarto antes dos 55 anos.
A pesquisa acompanhou, por 15 anos, 2.191 homens sem qualquer sinal de doença cardíaca e com colesterol total normal. Deste grupo, 129 acabaram desenvolvendo doença coronariana (angina ou infarto) precocemente. Os testes mostraram que eles tinham níveis elevados do colesterol Lp(a).
Tipos de colesterol
Hoje, os cardiologistas se baseiam nos níveis do LDL (colesterol "ruim"), do HDL (colesterol "bom") e do colesterol total (soma de LDL e HDL) para tratar os pacientes.
O LDL se deposita nas paredes das artérias e pode levar à formação de placas (ateromas), que obstruem a passagem de sangue. O HDL consegue "limpar" a parede das artérias.
Marcelo Bertolami, chefe do setor de dislipidemias do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, diz que o Lp(a) não é um colesterol "novo". Os pesquisadores já conheciam essa partícula, que tem uma composição muito parecida com o LDL, há alguns anos.
Segundo Bertolami, o Lp(a), além de se depositar na parede das artérias, tem papel importante na formação de um trombo (espécie de coágulo de sangue), que se "gruda" sobre as placas.
Os trombos são os responsáveis pela obstrução total de uma coronária, que vai impedir a passagem de sangue para o músculo cardíaco e levar a um infarto.
Genética
Apesar das fortes evidências do papel do Lp(a) nos infartos precoces, os médicos ainda tem muito pouco a fazer contra ele.
Bertolami diz que, aparentemente, o Lp(a) não está relacionado a uma dieta gordurosa, e não existem medicamentos efetivos para reduzir seus níveis no sangue, como acontece com o LDL.
O Lp(a), que já está sendo chamado de "colesterol muito ruim", parece ter causa genética. Um em cada cinco homens teria níveis elevados dessa substância.
O estudo americano mostra que o Lp(a) tem efeito potencializado pelos níveis elevados dos outros tipos de colesterol. Assim, reduzir o LDL também protege os pacientes com Lp(a) elevado.

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