São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Roma e o Vêneto

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

"As viagens alargam a mente e lhe dão forma." Bruce Chatwin, escritor inglês Pensando assim, toda grande universidade permite que seus docentes passem períodos no exterior para aperfeiçoar seus conhecimentos. Por isso estou em Roma, com licença da USP e a convite da Universidade "La Sappienza", para estudar e pesquisar.
Neste domingo há uma manifestação em Milão a favor da unidade da Itália para contrapor-se a manifestações pela independência das áreas do norte ocorridas no Vêneto, região vizinha. O movimento separatista é minoritário, mas tem por base o sentimento de que os impostos lá coletados são mal gastos por Roma.
É interessante essa movimentação. Partiram do Vêneto cerca de três quartos dos imigrantes italianos que vieram para São Paulo e o Rio Grande do Sul no século passado. Naquela época a região era pobre e a falta de perspectivas induziu a imigração.
Hoje o Vêneto está entre as áreas mais ricas da Europa. As razões são conhecidas. Parte se deve à rede de transportes construída antes da guerra; parte é devido às ricas tradições agrícola, mercantil e artesanal da região, onde fica Veneza. Mas o salto se deu nas últimas décadas, com o Mercado Comum Europeu. A existência de crédito a juros baixos permitiu o florescimento do espírito empreendedor local. Milhares de pequenas e médias empresas, flexíveis e confiáveis, formam a base da economia.
Eis algo para se pensar no Brasil: enquanto os perdões fiscais (semelhantes à Sudene) e as transferências federais não fizeram a Sicília arrancar, o Vêneto, com escolas, crédito barato e apoio aos talentos locais, decolou...

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