São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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'Custo ABC' muda a economia da região

FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

A indústria já não é mais a maior empregadora de mão-de-obra da região do ABCD. Dados da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia comprovam que, em dez anos, a parcela de trabalhadores da região empregada no setor industrial caiu de 47% para 35%.
Enquanto isso, no setor de serviços, essa fração foi ampliada de 25% para 36% e no comércio, de 12% para 15%.
O responsável por esses indicadores já tem nome: "custo ABC", ou uma série de fatores regionais que, aliados à conjuntura econômica nacional, prejudica a atuação das indústrias e dificulta o crescimento do setor.
O "custo ABC" inclui a defasada infra-estrutura de transportes, a valorização da mão-de-obra, o alto custo de vida e a saturação demográfica da região.
O resultado é que o principal pólo industrial brasileiro tem assistido à fuga de grandes indústrias para o interior e outros Estados e à queda vertiginosa do nível de emprego, principalmente nos setores metalúrgico e químico.
Metalúrgicas como a Villares (4.000 funcionários), Eaton (400), ZF do Brasil (1.100) e Brasinca (2.500), além de outras de menor porte, deixaram a região levando empregos, impostos e renda.
Ao mesmo tempo, a região foi ignorada pelas montadoras, que resolveram construir novas fábricas (caso da Volkswagen, que preferiu Resende, no Rio) ou se instalar no país (caso da Renault, que escolheu o Paraná).
"Produzir no ABC é de 15% a 20% mais caro que no interior. Os impostos são altos e a pressão sindical encarece o custo da mão-de-obra", afirmou José Carlos Martins, presidente da Villares. A empresa está desativando, até o final do ano, uma unidade em São Caetano, que empregava 4.000 trabalhadores, com salário mensal médio de R$ 2.200. Em Sumaré, para onde a fábrica foi transferida, 300 pessoas fazem o mesmo trabalho com salário médio de R$ 2.000.
Serviços arrecadam mais
Mesmo com a saída de indústrias, a região detém 15,1% da economia do Estado (13,4% em 1990).
Segundo levantamento da Secretaria de Planejamento de Santo André, a arrecadação da indústria na região do ABC permaneceu estável entre 1988 e 1995, ficando na casa de R$ 1,8 bilhão por ano, em valores atualizados.
No mesmo período, porém, a arrecadação no setor de serviços saltou mais de 13 vezes -indo de R$ 9,6 milhões em 1988 para R$ 130 milhões no ano passado.
"Os serviços crescem porque o mercado consumidor é forte. A mão-de-obra sempre foi bem remunerada", diz Flávio de Sousa, presidente da Associação Comercial-Industrial de São Caetano.
O reforço do setor de serviços contou com a chegada de empresas de porte grande, como a rede de lojas de departamentos norte-americana Wal-Mart (que investiu R$ 150 milhões no ano passado), e a abertura de shopping centers.
"Sem indústria forte, não há comércio forte. O setor terciário, apesar de estar crescendo, absorve apenas parte da mão-de-obra liberada e, ainda assim, com salário menor", disse Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT).
Em um ano, Marinho viu o número de trabalhadores em sua base cair de 140 mil para 124 mil.
"O 'custo ABC' está na falta de investimentos públicos em transporte, moradia, educação e na guerra fiscal que outras regiões promovem e que torna o ABC desinteressante", considera Marinho.
Para Maria do Carmo Romeira, coordenadora do instituto de pesquisa do Imes, órgão regional que faz análises sócio-econômicas do ABCD, "o salário da região é alto, mas o custo de vida também".

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