São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Mulheres encaram regras machistas

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Preconceitos, proporções e regras desmedidas. Para piorar, dar adeus, às vezes, ao que se toma como padrões de beleza.
As dificuldades são muitas, mas as mulheres provam que também no esporte os "feudos" masculinos estão em extinção.
"Eu sempre gostei de futebol. Isso já nasce com a gente", diz a jogadora Leda Maria, 30.
Ela pratica o esporte desde que tinha 6 anos e afirma que só vai parar de jogar profissionalmente quando "acabar o fôlego."
"O boxe é apaixonante. Quando você está no ringue só pensa em ir para cima da adversária."
A afirmação é de Julice dos Santos, 19, pugilista que já disputou quatro lutas como amadora (leia texto ao lado).
Julice luta com proteção nos seios e máscara, além de usar luvas maiores. Isso tudo, no entanto, não impede que ela possa ter um hematoma no olho ou uma fratura no nariz, por exemplo.
"A mulher pode correr 42 km sem problemas. Tudo tem que ser feito dentro do limite físico dela", afirma a maratonista Márcia Narloch, 26, 39º em Atlanta-96.
"O basquete, apesar de ser um jogo de contato físico é tão saudável quanto qualquer outro", diz Alessandra, 22, pivô do Seara/Americana e da seleção brasileira medalha de prata nos Jogos.
"O tênis feminino é até mais bonito de se ver. Os homens apenas são mais fortes que nós", afirma a tenista Vanessa Menga, 19.
Desempenho
Todas elas, de um modo ou de outro, enfrentam um problema: as regras da maioria dos esportes não levam em conta as diferenças físicas entre homens e mulheres.
No futebol, por exemplo, o gol tem 7,32 m de comprimento e 2,44 m de altura. Dida, goleiro brasileiro em Atlanta, mede 1,95 m. Meg, a goleira da seleção feminina, tem 1,75 m. Ambos defenderam o mesmo espaço.
O médico Victor Matsudo, especialista em medicina esportiva, considera que o desempenho das mulheres é prejudicado pelo fato de que "a maioria dos esportes são feitos por homens e para homens".
Isso, segundo ele, não significa que as mulheres não possam praticar todos os esportes. "O que nós temos que observar é que homens e mulheres são diferentes do ponto de vista biomecânico, e, por isso, eles levam vantagem."
"O futebol, por exemplo, é um exercício maravilhoso para as moças. Quem pratica tem menos riscos de sofrer de hipertensão e colesterol alto, além de diminuir a quantidade de gordura no corpo."
Turíbio Leite de Barros Neto, especialista em fisiologia esportiva, também compartilha a opinião de que as mulheres estão aptas a praticar qualquer esporte.
"A força, a potência e a velocidade das mulheres serão sempre menores. Mas isso é decorrente do fato de os homens terem maior quantidade de testosterona (hormônio masculino)."
Ambos, no entanto, têm como única restrição o boxe, para ambos os sexos."O boxe visa o desmonte do adversário, não considero um esporte", diz Matsudo.
Matsudo é a favor de que haja mudanças em determinadas regras, como por exemplo, que a altura da cesta de basquete seja adequada à das atletas.
"Mesmo com a estrutura atual, o desempenho alcançado pelas moças é maravilhoso."
"Eu até alcanço o aro, mas não consigo enterrar. Seria bom se desse", diz Alessandra, 1,98 m.
Os dois especialistas concordam, também, que as mulheres enfrentam o mito da masculinização.
"Infelizmente, ainda se acredita que o esporte viriliza a mulher", diz Matsudo. Para ele, o fato de uma moça praticar esporte não vai alterar seu comportamento social.
"O esporte não masculiniza a mulher. Quando se observa uma mulher com o corpo muito musculoso, é fruto de drogas, como anabolizantes", diz Turíbio.

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