São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 1996
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Neruda teve o povo como protagonista

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

"Procurar um propósito na história é o mesmo que procurar baías, rios ou leões nas nuvens -a gente procura porque procura." A visão desconsolada do argentino Jorge Luis Borges citando Schopenhauer é mais ou menos contemporânea à ida do chileno Pablo Neruda à Guerra Civil Espanhola.
A postura antagônica dos dois escritores ressalta a importância que esse último via na participação do poeta nas transformações do mundo. A postura engajada é o melhor exemplo de como política e realismo fantástico andaram lado a lado na cultura literária.
O país que produziu dois Prêmios Nobel de Literatura -um deles de Neruda e outro de Gabriela Mistral- produziu romances psicológicos, poesia e best sellers, sem nunca desvincular a linguagem literária da postura política.
Uma literatura que nasceu de pequenos épicos escritos por soldados espanhóis na luta contra os resistentes índios araucanos encontrou no nacionalismo do século 19 uma fórmula estável de criação.
Durante o período, as tensões sociais e as problemáticas rurais foram tema para um tratamento romântico da questão nacional, voltado ao liberalismo que compunha o ideário da independência recém-conquistada. Exemplos disso são o filósofo e poeta Andrés Bello (1781-1864) e o escritor José Joaquim Vallejo (1811-1858), autor de pequenas sátiras de costumes.
Quando operários das minas de carvão, crimes e prostituição invadiram o cenário social, já no século 20, também foi engajada a postura de alguns poetas, como Joaquín Edwards Bello (1887-1968).
O modernismo encontra a cultura chilena questionando as relações semifeudais no campo e as tensões sociais urbanas. É esse o cenário temático de autores como Eduardo Barrios (1884-1963).
Desvincular a linguagem literária dos assuntos cotidianos foi tarefa de Vicente Huidobro (1893-1948), poeta que causou uma ruptura por meio da tentativa de ampliar o universo temático.
Mas foi Pablo Neruda (1904-1973) quem melhor fundiu essas atuações. Sua atividade política resultou na criação de uma obra na qual o povo era o protagonista, justificando sua imensa popularidade e tornando-o retrato da realidade histórica do país.

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