São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Luta pelo ozônio será vencida, diz Nobel

ANDRÉ FONTENELLE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o mexicano naturalizado norte-americano Mario Molina, Prêmio Nobel de Química de 1995, a batalha contra a destruição da camada de ozônio da atmosfera está "praticamente" vencida.
Molina -em São Paulo para a comemoração do Dia Internacional do Ozônio (na verdade, quatro dias, até quinta-feira)- se diz otimista quanto ao fim da produção de substâncias destruidoras da camada de ozônio (SDOs), como os gases clorofluorcarbonos (CFCs).
Usados em refrigeração, aerossóis e espumas plásticas, eles tornam a Terra vulnerável aos raios ultravioleta do Sol. Estes causam doenças no homem e prejudicam o equilíbrio ambiental.
A maioria dos países ditos desenvolvidos já interrompeu a produção e o uso de SDOs, tendo encontrado alternativas mais baratas.
Mas os países em desenvolvimento, como o Brasil (leia texto abaixo), ainda produzem grandes quantidades de SDOs. Pelo Protocolo de Montreal (Canadá), de 1987, porém, centenas de países devem bani-los no futuro.
Segundo Molina, o buraco continua aumentando sobre a Antártica, mas, com o cumprimento do protocolo, no século 21 a situação se reverterá. "É só uma questão de tempo e investimento", afirmou ele.
Preocupam-no mais problemas ambientais provocados pelo crescimento da população e da economia mundiais, como o desmatamento: "É uma situação difícil."
*
Folha - A batalha para salvar a camada de ozônio já está vencida?
Mario Molina - Praticamente sim. Mas, mesmo que esteja vencida, é preciso continuar trabalhando. Ainda não terminou nos países em via de desenvolvimento, como Brasil, México, China e Índia, que devem efetivamente tomar medidas para essa mudança de tecnologia. Isso está acontecendo, mas ainda não aconteceu. Se acertam a regulamentação, o problema estará resolvido em boa medida.
Folha - O sr. diz que os países em desenvolvimento não podem ter o mesmo padrão de consumo que os países ricos tiveram no passado. O que isso significa na prática?
Molina - Significa o seguinte: o nível de vida não tem que ter relação direta com o nível de consumo. O uso de energia per capita nos EUA, por exemplo, é muito maior que em certos países escandinavos, e o nível de vida na Suécia e na Noruega é muito alto. Consomem de maneira mais apropriada.
Nos EUA, há grandes distâncias, mais consumo de energia para transporte. Mas muitos outros efeitos culturais: automóveis muito grandes, embalagens com muito plástico, muito papel. Muito desperdício. É preciso mudar.
Folha - Se todos tivessem o mesmo nível de consumo dos EUA...
Molina - ... Não é possível. Segundo um estudo feito no Canadá, para manter o nível de consumo de um cidadão típico norte-americano, é preciso certa quantidade de área no planeta. Se todos os habitantes que existem hoje tivessem o mesmo nível de consumo, necessitaríamos de três planetas. Então não é possível. É preciso mudar.
Folha - Os EUA também não deveriam mudar esse padrão?
Molina - Sim. Têm, claro, que mudar. É um problema político difícil, e estamos tratando de introduzi-lo nos EUA.
Folha - Quando o sr. denunciou o problema, como a comunidade internacional reagiu?
Molina - No princípio, somente uma pequena parte da comunidade científica o aceitou claramente. O resto não. E, claro, a indústria e os governos tampouco. Levou tempo porque era um programa muito, digamos, "esotérico". São gases invisíveis, raios invisíveis. Eu pensava que não chegaria a ver a solução a que por fim se chegou.

Texto Anterior: Novo currículo vai para o debate final
Próximo Texto: Prêmio homenageia busca de alternativas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.