São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Caixa resgata parceria entre Davis e Evans

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Não vai chegar aos pés do sucesso de público de "Anthology", dos Beatles. Mas o trabalho de arqueologia musical feito pelo historiador de jazz Phil Schaap sobre a cooperação entre Miles Davis e Gil Evans é da maior importância artística.
O resultado -uma caixa com seis CDs- acaba de ser lançado nos EUA e, com certeza, já está entre as mais notáveis realizações da indústria fonográfica neste ano.
O pistonista Miles Davis (1926-1991) e o pianista, compositor, maestro e arranjador Gil Evans (1913-1988) são dois dos principais expoentes do jazz moderno. Trabalharam juntos de forma esporádica entre 1958 e 1969.
Deixaram quatro LPs: "Miles Ahead", "Porgy and Bess", "Sketches of Spain" e "Quiet Nights". Pelo menos um deles, "Sketches of Spain", é um dos discos seminais da história da música popular no século 20.
Esses trabalhos não estiveram acessíveis ao público por pelo menos 25 anos. A Columbia resolveu relançá-los, mas, além disso, tomou a excelente decisão de desconstruir a obra, mostrando ao público de que maneira os músicos chegaram ao resultado final.
Como em todas as decisões humanas, é possível que Davis e Evans tenham errado ao escolherem uma em vez de outra versão de cada uma das faixas.
Lógica aplicada
Além de dar a oportunidade para o ouvinte chegar às suas próprias conclusões, o projeto também ajuda a desmistificar a idéia de que o músico de jazz, quando "improvisa", simplesmente dá vazão à sua inspiração do momento.
Ao acompanhar a evolução de cada música (e mesmo ao ouvir o diálogo entre Evans e Davis registrado em fita durante as gravações), percebe-se com clareza que a "improvisação" foi produto de muito esforço e de uma lógica aplicada a cada melodia ao longo de períodos de tempo que, não raro, se estendem por semanas.
Duas músicas brasileiras aparecem nos discos: "Corcovado", de Antonio Carlos Jobim, e "Aos Pés da Cruz" (de Marino Pinto e Zé da Zilda). Mas os pontos altos são as diferentes versões do adágio do "Concerto de Aranjuez", de Joaquin Rodrigo, e as faixas da ópera "Porgy and Bess", de George e Ira Gershwin e DuBose Heyward.

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