São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Ciclo discute a intenção fotográfica

FERNANDO OLIVA
DA REDAÇÃO

Discutir a "diversidade de intenções" na fotografia é o mote da Oficina de Estudos e Criação Fotográfica, ciclo de oficinas e seminários que está reunindo profissionais, artistas e teóricos da imagem no MuBE para dar conta de tema tão abrangente quanto perigoso.
Talvez perigoso porque abrangente, já que a diversidade da produção fotográfica, hoje, é tão ou mais ampla que em qualquer outra forma de manifestação artística.
Outra questão cara aos fotógrafos é a relação com as artes plásticas. Debate tão antigo quanto o próprio surgimento da fotografia, o tema do intercâmbio e apropriação de imagens fotográficas por artistas plásticos está presente em praticamente todas as oficinas e seminários.
Até 28 de novembro, divididos em seis oficinas e mesmo número de seminários (leia ao lado), o público também poderá debater a inserção da fotografia no campo das artes visuais, o conceito de criação e produção fotográfica, a hegemonia da fotografia documental e de que forma o universo fotográfico atual restringe a força da imagem.
Mário Ramiro, artista plástico brasileiro fixado em Colônia (Alemanha) há cinco anos, discute as novas tecnologias no seminário "Paisagens Artificiais", ao lado do pesquisador Laymert Garcia dos Santos.
Ramiro, que hoje trabalha na Escola Superior de Arte e Mídia de Colônia, produz o que chama de lasergramas, fotogramas que usam o laser como fonte de luz.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Dusseldorf, Ramiro falou sobre estética fotográfica, apropriação de imagens e o futuro da fotografia.
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Folha - A fotografia contemporânea já admite o termo "diversidade de intenções"?
Mário Ramiro - A presença da fotografia nas artes já acompanha este século. Nos anos 20 e 30 os artistas modernos começaram a fazer fotocolagem, fotomontagem, produzir fotos com dupla exposição, afastando a fotografia de um simples decalque da realidade. Nos dias de hoje, a fotografia é um objeto autônomo, não está mais necessariamente ligada à realidade. Folha - Existe uma estética própria da imagem fotográfica?
Ramiro - Sim, e ela vem sendo desenvolvida desde o começo deste século. Hoje, o objeto fotográfico tem uma presença incontestável na arte. Não se discute mais se a fotografia é ou não arte, ela já pertence a este universo. O que se discute hoje é o que vem depois da fotografia, como a imagem digital e a não-fotografia, ou seja, tudo que envolve a imagem eletrônica.
Folha - Em que sentido a fotografia se manifesta como arte?
Ramiro - Ela foi a primeira grande forma de comunicação pela imagem e, hoje, a nossa vida está totalmente permeada por ela. Essa revolução começou com a fotografia. O que os artistas vêm fazendo é se apropriar de um universo de imagens fotográficas, divulgadas em jornais e revistas, e recriar novas imagens no contexto da arte. A pop art, por exemplo, não pode ser imaginada sem a fotografia.
Folha - Qualquer tipo de captação de imagem pode ser considerada arte?
Ramiro - Até o começo da revolução eletrônica o que diferencia a obra de arte é a intenção e, consequentemente, a autoria do artista. Com a informatização e as redes de comunicação, esses conceitos começam a ser contestados. Você pode, por exemplo, acessar minha página na Internet, encontrar uma foto feita por mim, fazer alguma intervenção e colocá-la novamente na rede.
Folha - Até onde pode ir a intervenção do fotógrafo no real?
Ramiro - O artista que trabalha com a fotografia tem hoje a total liberdade de intervir no processo, não só durante a produção da imagem mas também na manipulação dos negativos, na digitalização da imagem, ampliação, na passagem do negativo para o papel.
Folha - Para que caminho aponta essa abrangência nos usos da fotografia?
Ramiro - Não sabemos que tipo de imagens virão no futuro, mas sabemos que novas imagens virão, e talvez com um poder ainda maior que as imagens que já nos governam, que já nos mantêm sob controle.

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