São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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Secretário não descarta uso de arma

FRANCISCO CÂMPERA

FRANCISCO CÂMPERA; LUIZ MALAVOLTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Santos (Justiça), donos de propriedades privadas 'têm direito de se defender até com armas'

O secretário de Justiça de São Paulo, Belisário dos Santos Júnior, disse ontem, em São Paulo, que os donos de propriedades privadas, "em princípio, têm direito de se defender até com armas". A declaração foi dada em encontro com a líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema, Diolinda Alves de Souza.
Contraditório, o secretário disse que o ressurgimento da UDR (União Democrática Ruralista) e a invasão de uma propriedade privada revelam a radicalização de ambos os lados.
Para Belisário, a criação da UDR é um retrocesso. "A UDR tem vocação de impedir a reforma agrária pela via armada."
Destruição
O pecuarista Marcelo Negrão destruiu com tratores 70 alqueires de mandioca e milho plantados pelos sem-terra há duas semanas.
Isso foi feito imediatamente após a Justiça lhe conceder a reintegração de posse de uma área da fazenda Santa Rita, em Mirante do Paranapanema. Na área, Negrão mandou que os funcionários plantassem sementes de capim tanzânia, usado na alimentação do gado.
A reintegração de posse começou às 9h e terminou às 12h40. Ela foi feita pelo oficial de Justiça Luiz Carlos Queiroz, cumprindo decisão da Justiça de Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de SP).
A atitude foi considerada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como um "desafio". "Nos faz repensar o pedido de trégua nas ocupações de terras no Pontal pedida pelo Incra", afirmou José Rainha Jr.
Cerca de mil sem-terra, que invadiram a fazenda, estão acampados às margens da rodovia que liga Sandovalina a Teodoro Sampaio e que corta a fazenda.
Irritados com a decisão de Negrão de destruir as lavouras, os sem-terra impediram que funcionários da fazenda entrassem na área passando pelo acampamento.
Um grupo de sem-terra, liderado por Gilmar Contarato, da coordenação estadual, abriu uma valeta num trecho que dá acesso à área da fazenda para barrar os tratores. A Polícia Militar interveio e proibiu a entrada por esse ponto.

Colaborou Luiz Malavolta, da Agência Folha, em Mirante do Paranapanema

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