São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morrem mais três pacientes que faziam hemodiálise em Pernambuco

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A Secretaria da Saúde de Pernambuco divulgou ontem em Recife a morte de mais três doentes renais que se submeteram a tratamento de hemodiálise no IDR (Instituto de Doenças Renais) de Caruaru.
Com os três, agora chega a 60 o número de mortos entre os pacientes renais do IDR, desde 20 de fevereiro passado. Ato todo, 126 pacientes do IDR foram tratados com água contaminada.
Os pacientes do IDR foram contaminados pela água usada entre 13 e 17 de fevereiro no processo de filtragem do sangue -tratamento chamado de hemodiálise.
A água continha a toxina microcistina LR, que provocou hepatite tóxica em quase todos os pacientes e foi a causa comprovada da morte de 45 deles. A contaminação não foi detectada pelo controle do IDR.
As três mortes divulgadas ontem pela secretaria aconteceram em dias e lugares diferentes. O agricultor José Francisco dos Santos, 50, morreu domingo, em Recife.
Na segunda-feira, morreu em Belo Jardim (a 182 km de Recife) a dona-de-casa Maria Celeste Soares, 49. Ontem, em Garanhuns, morreu a aposentada Maria José Borges de Oliveira, 69.
A secretaria informou que só ontem recebeu a comunicação das três mortes. Ainda não se sabe se a causa das mortes foi hepatite tóxica.
O IDR está fechado desde março. Com o fechamento, os pacientes foram remanejados para clínicas de Recife, Carpina (a 54 km de Recife) e Garanhuns (a 214 km de Recife). O Estado encarrega-se do transporte para tratamento.
A intoxicação e morte dos pacientes renais foi investigado em inquérito policial feito pela delegacia da cidade e por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembléia Legislativa. Sete pessoas estão sendo processadas pela Justiça. Até agora, ninguém foi punido. Todos se dizem inocentes.
Entre os processados, estão os proprietários do IDR, os médicos Bráulio Coelho e Fernando Bezerra. "É da clínica a responsabilidade pela qualidade da água que usa no tratamento dos seus pacientes", afirma o secretário de Saúde, Jarbas Barbosa.
"O que aconteceu foi um acidente que não dava para evitar", diz o médico Coelho.
Um projeto do governo federal -já aprovado na Câmara e que vai a voto no Senado- concede a pensão de um salário mínimo aos parentes dos mortos.
Em Recife, a advogada Rita de Cássia Lins e Silva, representante de 27 famílias de vítimas da hemodiálise, entrou na Justiça Federal em julho com uma ação de indenização que varia de R$ 300 mil a R$ 3 milhões por pessoa. A ação ainda não foi julgada.

Texto Anterior: Doença letal cai 75% em 5 anos
Próximo Texto: Associação tem prédio equipado para cegos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.