São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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Pelé deixou todos engravatados desorientados

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Certa vez, Terto (lembram-se?), me confidenciava que a diferença entre um lançamento de Gérson e outro de Rivelino estava no tipo de efeito que a bola tomava durante o trajeto: no de Gérson, girava no sentido interno do campo, batia no peito do destinatário e caía-lhe suave aos pés, de frente, para o gol; o de Rivelino girava ao contrário, enroscava-se no peito do indigitado e saía pra lateral.
"E você, ainda por cima, levava a vaia da torcida", arrematava Terto, que nunca primou pela sofisticação de seu futebol tosco, mas eficiente.
É o caso desse passe em profundidade de Pelé: a bola veio com tanto efeito que deixou todo mundo desorientado. Sobretudo, porque a área está coalhada de figuras engravatadas cujas imaginação e competência ficam muito aquém das de Terto.
Na verdade, não estou convencido de que a Lei Pelé seja o melhor instrumento para libertar de vez o jogador de futebol dessa nefanda instituição do passe. Essa história de limite de três anos de contrato, por exemplo, é uma estultice. E um paradoxo: afinal, o objetivo não é conceder às duas partes o direito inalienável de escolha? Então, por que limitá-la?
Quanto à alegada falência dos clubes, resultante da aplicação da nova resolução, é mais do que uma falácia: é safadeza mesmo. Pois, entre outras coisas, num processo irreversível, cada vez mais os passes pertencem a empresários e não aos clubes, que, no máximo, entram como sócios nesse negócio.
Logo, deixemos de parangolés, e vamos ao que importa: os clubes que tratem de se profissionalizar rapidamente, transformando-se em empresas, sociedades anônimas ou o que seja.
E os cartolas, profissionais de gaveta, que posam de amadores, abnegados patronos dos clubes (há muitos que realmente são honestos e dedicados; poucos, porém, competentes) procurem outro ofício.
Por fim, poupem-me desse insulto à espécie humana que se repete a cada vez que um cartola abre a boca - o de que o jogador é patrimônio do clube. Patrimônio é a avó!
*
A cada passo, um braço tricolor angustiado me segura: afinal, o que acontece com o São Paulo, que começou tão bem e, de repente, despencou?
O que acontece é simples. Tirando-se o miolo de zaga, onde se salva apenas Válber, que não consegue entrar em campo, o tricolor é um time de um lado só, o esquerdo, onde se concentram todos os seus talentos -Serginho, André, Denílson e cia.
É só com isso que o inimigo tem de se preocupar. Pois o outro lado, deixa, que a bola marca.
*
Santos e Portuguesa, eis um jogo de se ver, no agradável e simpático campo do Ibirapuera.
Principalmente, por causa Lusa de Candinho. De Candinho, Zinho, Caio e desse menino que vai longe, Rodrigo. Mas, sobretudo, de Candinho, que parece ter nascido pra viver no Canindé.
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Dely Valdez, é? Grande pedida. É o toque de classe internacional que está faltando a esse Corinthians redivivo.

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