São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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Emanoel Araujo aprisiona suas esculturas de madeira na parede

Diretor da Pinacoteca volta a expor em São Paulo

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Emanoel Araujo notabilizou-se recentemente menos por sua atividade de escultor do que como o administrador da Pinacoteca. Resistiu no cargo à troca de governadores do Estado e conseguiu atrair público contado na casa da dezena de milhares para suas exposições.
Ampliou seu acervo com sete esculturas de Rodin e mostra artistas novos no museu editando caprichados catálogos.
Empreende agora uma reforma física no prédio da Pinacoteca, com a qual pretende anexar também parte do contíguo e depreciado Jardim da Luz, no que chama de "saneamento urbano".
Ele agora se volta à própria produção, deixada de lado nos últimos anos. Mostra na galeria Nara Roesler o que chama de relevos -esculturas geométricas de madeira formatadas em retângulos- que leva à parede. É como se aprisionasse suas esculturas monumentais de ferro retorcido em quadros de parede.
"Meu objetivo era fazer grandes esculturas tridimensionais, monumentais. Mas o trabalho acabou se contendo", diz. O ferro deu lugar à madeira pintada em tinta acrílica preta, "americana", que dá à peça uma acabamento quase metálico.
Os cortes que faz na madeira tornam obrigatório pensar nos desenhos que as peças projetam na parede -mesmo não havendo iluminação, ou melhor, um interesse em iluminação que justifique a tese. "Não ajo como Franz Kracjberg, que estrutura suas esculturas pensando também nas sombras.".
Nas peças, também utilizou pinho de riga, uma madeira que deixa antever seus veios. Não há, contudo, qualquer aproximação com uma linguagem brutalista. Os paus estão lá trabalhados, cortados com precisão.
Natural de Santo Amaro da Purificação (BA), Araujo é conterrâneo de Caetano Veloso, com quem dividiu sua primeira exposição. "Ele era acadêmico, pintava casarios. Tem um ótimo desenho", diz.
Mestre Didi
Faz no momento a curadoria da sala especial de Mestre Didi na Bienal. "Todo o sentido da montagem é realçar a religiosidade da obra dele. A sala é toda escura, o preto é uma cor tranquila, e coloco as peças na altura dos olhos das pessoas, sobre altares."
O artista, que é sacerdote Egun -culto de origem africana-, produz suas peças para utilização em rituais. "São como as máscaras africanas, que são fundamentais na arte moderna. Para nós, suas obras são acabadas, autônomas, podem ser entendidas longe dos rituais."
Araujo anda chateado com as autoridades de trânsito da cidade. "Pedi um retorno na avenida Tiradentes para que as pessoas pudessem chegar com mais facilidade à Pinacoteca. Me responderam que o estacionamento da Pinacoteca para 12 carros -ele é maior, comporta 20- não justificava uma intervenção no trânsito. E o Maluf construiu aquela passagem subterrânea (Tom Jobim) sem pensar em nenhum momento que lá no entorno havia uma instituição, um prédio do século 19."

Exposição: Emanoel Araujo
Onde: Galeria Nara Roesler (Av. Europa, 655, tel. 011/853-2123)
Quando: de hoje a 9 de outubro. Seg. a sex., das 10h às 19h; sáb, 10h às 14h

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