São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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RESERVA DE MERCADO

RESERVA DE MERCADO

Reserva de mercado: não pode ter outro nome a política do governo para o sistema bancário.
Nos últimos meses a inflação caiu, os juros (por exemplo na caderneta de poupança) caíram, os salários reais caíram e muitos setores econômicos entraram numa espiral de inadimplência e arrocho creditício. Ainda que os bancos também sofram com o risco nas operações de crédito, para muitas instituições tudo parece acontecer noutra velocidade.
Há dias um grande banco que tradicionalmente opera com uma das menores taxas do mercado anunciava redução dos juros para chegar, no crédito ao consumidor, a 4% ao mês nos empréstimos prefixados.
É um nível com o qual é muito difícil conviver, que dizer competir. Para as empresas, o empréstimo de capital de giro custa também cerca de 4% ao mês. Para ter idéia das magnitudes em jogo, basta lembrar que a inflação mensal medida pela Fipe anda na casa dos 0,25%.
A explicação para um preço abusivo, mesmo quando se trata de mercadorias tão especiais como são o dinheiro e o crédito, é basicamente a falta de oferta e o excesso de procura.
No caso do crédito ao consumidor e às empresas, há também algo mais. Além da oferta e da procura, deve-se levar em conta a própria estrutura do sistema bancário, extremamente concentrado e, em alguns casos, virtualmente monopolista (por exemplo em cidades menores onde às vezes existe apenas uma agência de um único banco). Assim, mesmo quando o governo reduz as taxas de juros básicas no mercado interbancário, as instituições intermediárias não repassam essa redução aos devedores.
Há várias soluções. Permitir a entrada do capital estrangeiro no sistema bancário é uma, que o governo tem sido lento em estimular. Diversificar as instituições que captam e repassam recursos é outra, por exemplo adotando o modelo europeu e japonês de poupança por meio do sistema de correios.
É urgente combater a perversidade dos juros cobrados de quem produz e trabalha e aumentar a competição, eliminando as travas que impedem uma oferta maior de crédito.

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