São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 1996
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Isaac Hayes injeta soul no Free Jazz

MARISA ADÁN GIL
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem só de novidades vive o Free Jazz 96. Uma das maiores atrações do festival é um veterano de 58 anos que influenciou três gerações de música negra.
O mestre do soul Isaac Hayes apresenta-se no dia 11, em São Paulo, e no dia 12, no Rio. Nas duas noites, divide o palco com o africano Salif Keita.
Hayes é, ao lado de George Clinton (outra atração do evento), um dos mitos da história do funk.
Em 74, foi contratado pela gravadora Stax, a meca do soul de Memphis. Lá, atuou como produtor, arranjador, pianista e compositor.
Passou a gravar seus próprios discos em 67. Com as quatro longas faixas de "Hot Buttered Soul" (69), criou o soul orquestral.
Fez história em 71 ao levar o primeiro Oscar para um compositor negro com a trilha de "Shaft".
Deixou a Stax em 75. Depois disso, teve hits esparsos, como "Don't Let Go" (79). Em 95, lançou dois discos, "Branded" e "Raw & Refined", que promoviam a volta aos 70.
Amante do cinema, atuou em 28 filmes. No momento, prepara-se para filmar "Woo", com produção de John Singleton.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York, Hayes falou sobre seus planos no Brasil: tocar com George Clinton e aprender tudo sobre música brasileira.
*
Folha - Como será seu show no festival?
Hayes - Se tiver chance, vou fazer uma "jam" com George Clinton, um velho amigo. Com certeza, vou tocar meus hits antigos.
Folha - Também pretende tocar com músicos brasileiros?
Isaac Hayes - Quero aprender tudo o que puder sobre música brasileira, para ser influenciado por ela. Adorei tudo que já ouvi.
/pingFolha - Você é considerado um dos precursores do rap.
Hayes - Fico orgulhoso com isso. Mas o que eu fazia era diferente: rap romântico, com melodia.
Folha - Você é um dos artistas mais sampleados na música negra. Isso é bom ou ruim?
Hayes - As duas coisas. O surgimento do sampler foi bom, porque, sem dinheiro para aprender a tocar, era o única recurso dos garotos. Foi ruim, porque possibilitou o surgimento do gangsta rap, que perpetua o preconceito. Está na hora dos garotos aprenderem música, porque, daqui a pouco, não vai mais haver o que samplear.
Folha - Nos 60, Motown e Stax fizeram a glória da black music. Dá para imaginar algo parecido hoje?
Hayes - Não. A Stax era uma família. Hoje, as gravadoras não ligam se os garotos matam uns aos outros, desde que tenham lucro.

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