São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 1996
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Vaticano mantém silêncio sobre suposta ajuda à CIA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Vaticano não comentou ontem alegações de que o papa João Paulo 2º e o governo dos EUA trabalharam juntos em segredo na década de 80 fim de apressar o fim do comunismo na Polônia.
Tais afirmações aparecem em livro escrito pelos jornalistas Carl Bernstein e Marco Politi a ser publicado pela editora Doubleday. Extratos de "Sua Santidade: João Paulo 2º e a História Secreta de Nosso Tempo" foram comprados pela revista "Reader's Digest".
Em 1992, o porta-voz do papa, Joaquín Navarro, classificou de "bizarras" afirmações parecidas com as do livro publicadas por Bernstein na revista "Time".
O livro diz que o papa se encontrou 15 vezes com o então diretor da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), William Casey, para tratar da questão polonesa. Segundo o livro, o general Vernon Walters, na época diretor-assistente da CIA, também participou dos encontros.
A aliança informal entre os EUA e o Vaticano incluiu corte de verbas do governo norte-americano para programas de controle da natalidade no país e o silêncio do papa quanto à instalação de mísseis na Europa ocidental.
Bernstein e Politi dizem ter tido acesso a documentos secretos da Casa Branca, do Departamento de Estado e da CIA que confirmam essas afirmações. Eles também afirmam que entrevistaram centenas de pessoas em Washington, no Vaticano, em Varsóvia e em Moscou para conseguirem as informações que estão no livro.
Segundo eles, o papa pôde examinar alguns dos mais secretos documentos do governo norte-americano durante a crise que levou ao fim do comunismo na Polônia, inclusive a comprovação da ajuda financeira dos EUA ao sindicato Solidariedade, liderado por Lech Walesa, que depois seria eleito presidente da Polônia.
O livro diz que não houve qualquer negociação formal que levasse Washington ou o Vaticano a agir de maneira específica. O corte da ajuda a programas de planejamento familiar nos EUA, por exemplo, foi classificado como "gesto de deferência" ao papa.
O livro afirma que o governo da então União Soviética também considerava o Vaticano uma força vital nos acontecimentos na Polônia na década de 80. O papa João Paulo 2º é polonês.
Bersntein foi um dos dois repórteres que cobriram o caso Watergate para o jornal "The Washington Post". O outro foi Robert Woodward. Os dois publicaram dois livros sobre o caso Watergate: "Todos os Homens do Presidente" e "Os Dias Finais".
"Todos os Homens do Presidente" é considerado uma obra exemplar de apuração de informações em jornalismo. Mas "Os Dias Finais" recebeu críticas por descrever em detalhes cenas que não podiam ter tido testemunhas além de personagens que nunca falaram aos autores.
Bernstein deixou o "Post" pouco depois do caso Watergate e se tornou "free-lancer".

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