São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Cemitério judaico proíbe exumação de Iara

RUI NOGUEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A maioria dos membros da direção da Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo decidiu, em reunião realizada anteontem à noite, não autorizar a exumação do corpo de Iara Iavelberg.
O corpo está enterrado no cemitério israelita de Vila Mariana (zona sul de São Paulo), no setor destinado aos suicidas.
Judia, Iara era companheira do capitão Carlos Lamarca e morreu em setembro de 71 em Salvador. Lamarca trocou o Exército pela guerrilha em 69 e também foi morto em 71, no sertão baiano.
A lei judaica proíbe que se mexa nos corpos depois de enterrados.
Em carta enviada na semana passada ao presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, o rabino Henry Sobel, 52, os irmãos de Iara (Raul, Samuel e Rosa) autorizaram a exumação por suspeitar da versão oficial de suicídio.
A família estuda agora, com seu advogado, a possibilidade de recorrer à Justiça para ter acesso ao túmulo de Iara.
Sobel discorda da decisão da direção da Sociedade Cemitério Israelita. "A lei judaica, como qualquer lei, está sujeita a interpretações. E, nesse caso, a minha (interpretação) é bem diferente da dos meus colegas ortodoxos", disse.
A Folha tentou ontem à tarde ouvir os dirigentes da organização judaica. A secretária Malu disse que não tinha como localizá-los.
Há dois casos em que a lei judaica permite mexer em corpos já enterrados: quando os túmulos são violados por alguma catástrofe natural ou por ação de profanadores e quando a família quer fazer o traslado do corpo para enterrá-lo em Israel ou juntá-lo a outros parentes em um mesmo cemitério.
Desonra
Para Sobel, o caso de Iara, embora não explicitado nas permissões, justifica a exumação. "Trata-se de restituir a dignidade a uma pessoa, corrigir a desonra a que ela foi submetida, uma vez que Iara foi enterrada como criminosa", afirmou.
Pela lei judaica, segundo Sobel, "o suicídio é o mais grave dos crimes". Na carta a Sobel, os irmãos de Iara pedem que, depois da perícia médico-legal, o corpo seja enterrado na área comum do cemitério israelita do Butantã.
Foram os grupos de defesa dos direitos humanos que pediram, inicialmente, a exumação do corpo por duvidar da versão oficial.
O laudo, que confirmaria a versão oficial de suicídio com um tiro no peito, nunca foi divulgado. Um militar que já morreu e que teria participado do cerco a Iara teria informado a familiares de desaparecidos que ela foi vítima de rajada de metralhadora ao reagir à prisão.

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