São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Para Túlio, Pelé não pode sucumbir

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O jogador Túlio, 27, três vezes campeão da artilharia do Campeonato Brasileiro, vai se transformar num dos ícones do passe livre no dia 1º de janeiro de 1997, caso o Ministério dos Esportes mantenha a resolução da semana passada.
Seu contrato com o Botafogo termina em 31 de dezembro. "Com liberdade, terei o melhor reveillon da minha vida", afirmou.
Túlio integra o grupo de atletas beneficiados já no primeiro dia de vigência da nova legislação.
No clube carioca desde 1994, o atacante já teve vários conflitos com a diretoria. No ano passado, foi ameaçado de ficar afastado, mas proibido de ir para outro clube, como punição por reclamações públicas.
"Agora, com o fim da escravidão, as coisas vão se inverter", disse Túlio ontem. (MM)
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Folha - Em que o passe livre mudará a sua vida?
Túlio - Na liberdade de escolha. Ter o passe é um sonho desde que eu jogava no Goiás. É como ganhar na megasena. Até nisso a minha estrela está brilhando. Vou ficar mais à vontade, ter liberdade. Não serei mais tão subordinado.
Folha - Alguns atletas se pronunciaram contra as mudanças definidas pelo Ministério dos Esportes.
Túlio - Para mim, a nova lei foi mais um gol de placa do Pelé. Ele já era meu ídolo, e ficou mais ainda. Pelé faz por onde porque foi atleta.
Folha - Você acha que o ministro vai ceder à pressão dos clubes?
Túlio - Acho que ele tem que escutar os clubes, mas deve manter as suas propostas de mudança.
Vai ser bom para todo mundo. Vou começar 97 de braços abertos, livre, com direito de escolha. Me sentirei como a estátua da liberdade.
Folha - O que muda na sua relação com os dirigentes?
Túlio - Eles que me desculpem, mas a partir de 1997 as coisas vão se inverter. Nós éramos tratados como mercadoria. Quando estávamos em alta, éramos bajulados. Agora, donos de nós mesmos, a bajulação vai ser redobrada.
Folha - Você acha que a lei em vigor lembra a escravidão?
Túlio - Somos, sim, um pouco escravos. No começo da carreira, eu sentia isso. Depois, houve uma fase em que eu não queria ficar no Botafogo, e era obrigado a ficar, por bem ou por mal. Agora não serei mais escravo.
Folha - Como será a negociação com o Botafogo no fim do contrato, com o passe livre?
Túlio - Até hoje, os dirigentes diziam: "é pegar ou largar". Agora, posso dizer: "então, tchau, um abraço".
Folha - Mas jogadores como você já não ganham muito?
Túlio - São os artistas que têm de ser favorecidos. Hoje eles não são premiados à altura. Quando o passe é vendido, eles ganham 15%. A porcentagem deveria ser 50%.
Folha - Como você analisa as críticas de dirigentes que apontam os clubes como os grandes prejudicados pela nova legislação?
Túlio - O benefício será para todos. Pela lei atual, por exemplo, um clube tem que pagar US$ 2 milhões pelo passe e US$ 1 milhão de salários pelo período do contrato.
A partir do ano que vem, o clube não vai mais gastar com o passe e pagará US$ 2 milhões ao jogador.
Folha - O êxodo de jogadores para o exterior vai aumentar?
Túlio - Com o passe na mão, eu não pretendo ir embora. Tenho vontade de ficar no Brasil. Com liberdade, posso fazer um contrato e, se estivermos satisfeitos no meio dele, podemos partir para outra.

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