São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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Jean-Claude Carrière procura diálogo

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O roteirista Jean-Claude Carrière quer diálogo. Ao espectador que assistir, hoje no Masp, à conferência que vai fazer, às 19h30, Carrière adianta -em entrevista à Folha, por telefone- que sua fala será, sobretudo, uma introdução ao tema "O Roteirista, Contador de Histórias de Hoje".
"Eu gostaria que o debate fosse o mais aberto possível", diz o roteirista francês.
Sua idéia inicial, na conferência de hoje, é que o roteirista de cinema, usando o instrumental tecnológico contemporâneo, equivale ao contador de histórias tradicional.
"Eu fabrico um produto híbrido, que é escrito para se tornar outra coisa", diz. Esta particularidade do roteiro não exclui a existência de outros contadores (ele cita os romancistas e os dramaturgos) na sociedade contemporânea.
Os temas para debate não se restringirão a isso, contudo.
Carrière pode comentar sua colaboração com Luis Buñuel, que começou em 1964 e seguiu até o último filme do cineasta espanhol ("Este Obscuro Objeto do Desejo", de 1977), passando por "Belle de Jour" (1967), considerado por muitos o principal filme de Buñuel.
Dalai Lama
Pode também passar pelos diversos diretores ilustres com quem colaborou (como Louis Malle e Wajda) ou outros injustamente esquecidos (o comediante Pierre Étaix, em particular).
Carrière pode ainda comentar seus encontros com Dalai Lama (objeto de seu livro recém-lançado no Brasil pela Mandarim, "A Força do Budismo").
Também a experiência como professor é central em suas atividades: "Fui presidente da Femis (escola superior de cinema francesa, que substituiu o antigo Idhec) durante dez anos, saí em junho, mas ainda continuo membro do conselho pedagógico", lembra.
O ensino do roteiro o trouxe ao Brasil, onde realizou uma oficina em Brasília, durante a semana passada. "Uma experiência animadora, acho que não só para mim como para eles. Disseram até que querem fundar uma associação dos alunos de Jean-Claude Carrière", comenta.
Desgaste
A experiência que não exclui a colocação de questões sérias. Roteirista numa época ingrata para a profissão -quando o cinema de autor dava as cartas-, Carrière vê com alguma preocupação o desgaste da idéia de autor.
"Passamos por um momento em que a tendência se inverteu, até demais", afirma.
Sua crença é num encontro entre roteirista e diretor como uma espécie de história amorosa, em que o entendimento gera a colaboração e um resultado que está além do "ego" de cada um deles.
Também nesse caso, Carrière está aberto ao diálogo.
(IA)

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