São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Proposta de unir Banespa à Nossa Caixa causa reação

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A proposta de incorporação do Banespa pela Nossa Caixa-Nosso Banco envolve uma forte disputa de bastidores e a tentativa de apresentar a Caixa como instituição saneada e capaz de competir com os grandes bancos privados -o que está longe da realidade.
Entre 121 bancos avaliados pela EFC Engenheiros Financeiros & Consultores, a Nossa Caixa só não está em último lugar porque essa posição já é ocupada pelo Banespa.
O recente esforço de recuperação da Nossa Caixa não eliminou sua deficiência estrutural: a forte dependência do Estado (o setor público concentra 95% dos créditos concedidos pela instituição).
A rolagem dessa dívida (R$ 4,7 bilhões), com autorização do Banco Central, serve de argumento para os ex-administradores do Banespa. Como o devedor é o mesmo (o Estado), eles acham contraditório que a dívida com o Banespa seja tida como "crédito podre" e a dívida com a Nossa Caixa considerada "crédito bom".
"O processo da Nossa Caixa não é diferente do processo do Banespa", diz Carlos Augusto Meinberg, 50, último presidente do Banespa antes da administração temporária pelo BC, em dezembro de 1994.
Meinberg coordena uma espécie de reação organizada dos ex-administradores do Banespa durante os governos Quércia (1987-1991) e Fleury (1991-1994), do PMDB. Denunciados à Justiça como responsáveis pela situação a que o banco chegou, eles reúnem munição para uma longa batalha judicial.
Influência política
Para Meinberg, a idéia de incorporação do Banespa é uma decisão mais política do que técnica.
O grupo em torno de Meinberg vê antigos laços que aproximaram seus opositores na Fundação Getúlio Vargas ou no grupo Pão de Açúcar: Geraldo Gardenali, presidente da Nossa Caixa, Alkimar Moura, diretor do BC, Yoshiaki Nakano, secretário da Fazenda, Antônio Angarita, secretário do Governo -todos gravitando em torno do ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira (que já presidiu o Banespa).
A briga mais pesada ainda não começou. Mas é certo que haverá muita resistência para evitar que o Banespa venha a se transformar no "nosso banco" da Nossa Caixa.

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